quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Os absurdos de Lisboa (3)

A Câmara não está verdadeiramente interessada em que os espaços verdes lisboetas sirvam a população, por puro desleixo.

Nos espaços verdes de Lisboa parece haver uma grande falta de preocupação com os resultados. Investe-se neles, mas não há uma genuína preocupação em que eles preencham de forma cabal as suas funções: oxigenar a cidade e proporcionar um espaço de lazer.

Em geral, os espaços verdes da capital têm um excesso de relva e défice de árvores, totalmente contrários às condições climatéricas actuais e, sobretudo, futuras. Não temos clima para ter tanta relva, onde se gasta uma quantidade absurda de água, para além de ainda não se ter aprendido aquilo que os israelitas, especialistas em viver com escassez de água, já ensinaram: só se rega ou ao início ou ao final do dia. Aliás a descentralização da gestão dos espaços verdes foi um desastre, porque a nível municipal havia competência técnica especializada, que não existe a nível das freguesias.

Os Verões secos, de tipo mediterrânico, recomendariam que se plantassem muitas mais árvores na cidade, de tipo caducifólio, para que no Inverno se pudesse aproveitar melhor as poucas horas de Sol. A escolha de espécies autóctones reduziria drasticamente a necessidade de rega, para além de pedir cuidados mínimos.

Um dos erros maiores dos últimos investimentos em canteiros, nestas obras faraónicas em curso, é não se pensar minimamente nos custos de manutenção posteriores. A asneira é tão flagrante que, poucos meses depois das obras concluídas e a tão pouco tempo das eleições, já se vêm (Av. 24 de Julho) canteiros cheios de ervas daninhas, com um péssimo aspecto. Se isto se passa na véspera do acto eleitoral, conseguem imaginar a bandalheira e o abandono que se instalará depois, com o pretexto que não há dinheiro para a manutenção?

Não se pode dizer que Lisboa tenha uma falta óbvia de espaços verdes no seu conjunto, embora faltem em zonas mais antigas e, em geral, estes espaços sejam pouco usufruídos. Entendo que isto se passa assim, porque a câmara não se preocupa em fazê-los apetecíveis.

Há uma generalizada falta de bares e cafés nestas áreas, que geralmente funcionam como âncora, bem como há uma clara falta de estacionamento. Para além disso, há uma grande falta de mesas, que poderiam ser centros de convívio ou ser usados por estudantes.

Há também intervenções completamente descoordenadas, numa lógica de “quintinhas”, com resultados absurdos. Na zona da Expo, a Leste da Torre Vasco da Gama, há muitas árvores (devia haver mais) e muitos bancos. Pois desafio-os a encontrar um banco que esteja à sombra, já que no Verão é a única solução aceitável.

Apesar de haver uma enorme procura de hortas urbanas (num dos últimos concursos, a procura foi o décuplo da oferta), a sua expansão está paralisada, ainda que haja muitas áreas onde elas poderiam ser instaladas, sendo de salientar que elas reduzem os custos de manutenção para o município, que poucos mais custos tem do que a água, ficando todo o trabalho a cargo dos agricultores urbanos. Destaco o Parque da Bela Vista, que ainda está em obras, e geralmente às moscas, tendo inclusive várias hortas urbanas clandestinas em terrenos próximos.

O que esperam para mudar este triste estado de coisas?


[Publicado no jornal online ECO]