quinta-feira, 1 de junho de 2017

Não se sentem à sombra da bananeira

O crescimento económico do 1º semestre deverá ser muito favorável, mas para que tenha continuidade é necessário que arregacemos as mangas, em particular o governo.

Só na 4ª feira saberemos os detalhes, mas tudo indica que os dados económicos do 1º trimestre deste ano sejam muito bons: uma forte aceleração do crescimento, de 2,0% para 2,8%; a estrutura deste crescimento é excelente, sobretudo baseado no investimento e nas exportações; houve uma melhoria do saldo externo e redução da dívida externa, ao contrário da dívida pública; também se registou um aumento da produtividade, ao contrário de 2016.

Há quem argumente, com alguma lógica mas não com inteira razão, que não faz muito sentido criticar o governo pelo mau desempenho da economia no 1º trimestre de 2016 e não o felicitar pela evolução muito favorável do 1º trimestre de 2017.

Na verdade, é inteiramente legítimo responsabilizar o executivo pela desaceleração no início do ano transacto, porque ele se deveu a uma forte queda do investimento, cuja razão é dupla. Por um lado, o investimento privado caiu devido a um enorme receio da relação do governo com o sector privado, pelas decisões de reverter contratos assinados pelo anterior executivo e pelo discurso anti-empresas do BE e PCP. Por outro, o próprio governo decidiu cortar drasticamente no investimento público, minimamente consciente dos riscos orçamentais que enfrentava, escolhendo o caminho mais fácil – e mais penalizador para a economia – para controlar o défice público. 

Em relação à aceleração em 2017, ela deve-se a um conjunto de razões, muitas das quais fora da alçada do executivo. Em primeiro lugar, devido a um efeito base, de partir de um valor muito baixo em 2016.

Em seguida, os fundos comunitários estão a puxar pelo investimento, mas podia ser mais significativo. Por exemplo, na agricultura 60% do investimento é privado e 40% público (34% comunitário e 6% do orçamento nacional). Há muitas queixas de pretextos ínfimos para atrasar ajudas, o que parece ser resposta a indicação superior mas não se gastarem tantas contrapartidas nacionais. No entanto, dada a alavancagem envolvida, 1 euro de dinheiros públicos gera quase 17 euros de investimento, era claramente preferível poupar noutras áreas do que aqui.

Para além disso, o turismo está cada vez menos sazonal, e só assim se compreende que seja ele um dos impulsionadores do crescimento no 1º trimestre, que deveria ser muito fraco para esta actividade. Convinha que não fossem tomadas medidas para matar a nossa galinha dos ovos de ouro, tais como restrições absurdas sobre o alojamento local, tais como criar guerrilhas entre vizinhos.

Há também outras exportações de serviços (transportes aéreos, serviços técnicos e de consultoria, etc.) que já representam tanto como turismo e algumas estão com um crescimento extraordinário.

Por exemplo, as exportações de serviços de informática cresceram 19% no 1º trimestre, tal como nos últimos seis anos, em que triplicaram as exportações. Mas estão com estrangulamentos na captação de pessoal, sendo essencial tomar medidas neste domínio, tais como certificar as acções de requalificação feitas pelas próprias empresas, como elas têm vindo a reivindicar, perante os ouvidos moucos das autoridades.

As perspectivas para o 2º trimestre são ainda mais favoráveis, devido de novo a um efeito base, mas também pela continuação da boa evolução do início do ano.

No 2º semestre é que se deverá assistir a um abrandamento da actividade, se entretanto não forem tomadas medidas que permitam aumentar o nosso potencial de crescimento.

[Publicado no jornal online ECO]


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