terça-feira, 14 de julho de 2015

Grexit

Quando publiquei o meu livro O fim do euro em Portugal? (Actual, grupo Almedina), em Agosto de 2012, falava-se na saída da Grécia do euro, o que voltou a estar fortemente em cima da mesa, por muitas das razões que então referi.

Após voltar a enganar a UE, como já tinha feito antes da entrada no euro, a Grécia foi forçada a pedir ajuda em 2010, tendo-lhe sido negada re-estruturação da dívida quando ela tinha sido mais necessária. A maior parte dos fundos emprestados à Grécia foram directamente para os seus credores. É curioso como tantos contribuintes, entre os quais de Portugal, não tenham protestado quando lhes forem pedidos fundos que, na prática, se destinavam a salvar bancos alemães e franceses, libertando estes Estados de problema equivalentes ao que Espanha teve que enfrentar.

Hoje, a Grécia está quase há seis anos em crise, o desemprego estratosférico, o sistema partidário esmagado e com o surgimento dos demagogos do Syriza e o melhor que a zona do euro é capaz de fazer é pedir mais austeridade?

Os líderes europeus podem sentir-se muito orgulhosos de terem vergado o Syriza e o seu referendo ou muito contentes de terem obrigado ao cumprimento das regras, mas parecem totalmente inconscientes do desastre que estão a criar. Depois de mais este pacote de austeridade, a Grécia é um desastre à espera de acontecer.

É tão fácil perceber que o Syriza irá aceitar (se o fizer) as condições do terceiro resgate sob reserva mental e que dentro em breve se recusará a cumpri-lo. Os dois resgates anteriores, muito deficientemente aplicados, tiveram como principal problema o facto de não terem sido assumidos como seus pelos governos gregos. Se isto aconteceu com os dois primeiros, imagine-se com o do Syriza.

É facílimo que se criem condições para os bancos gregos voltarem a fechar e que ocorra o pior dos cenários: a saída caótica da Grécia do euro. As externalidades negativas dum tal evento seriam tão elevadas, quer económicas quer geopolíticas, que se justifica uma atitude mais benévola dos dirigentes europeus. Infelizmente, o Syriza fez tudo para dificultar as negociações e existem custos políticos muito elevados por parte dos credores. Mas, se não há condições para a permanência da Grécia, em condições minimamente favoráveis para o país, é preferível negociar a sua saída, do que permitir que se voltem a criar condições para uma retirada desordenada, essa sim, com elevadas probabilidades de contagiar muitos outros países.

É também certo que uma saída ordenada envolveria um perdão maior de dívida do que permanecendo do euro, porque com um dracma desvalorizado o nível de dívida sustentável seria bem menor. Mas a actual dívida grega é impagável, havendo apenas dúvida sobre quem vai anunciar isso: os credores (com perdão) ou o devedor (com incumprimento).

 [Publicado no Diário Económico]

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