quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Lições por aprender

Ainda não foram aprendidas todas as lições da grande crise, agravada pela falência do Lehman Brothers há cinco anos

Há cinco anos, a 15 de Setembro de 2008, quando o banco de investimento Lehman Brothers declarou falência, teve início a mais grave crise económica dos últimos 80 anos. Comparada com a anterior, esta crise tem produzido transformações demasiado curtas.

Em 1929, teve início a Grande Depressão, que só terminou mesmo, nos EUA, com a escalada de armamento provocada pela II Guerra Mundial (1939-1945).

Mas a Grande Depressão trouxe como resposta uma mudança da agulha na política económica, que se afastou do liberalismo e se aproximou claramente do intervencionismo, mutação essa que perdurou até aos anos 80. No caso da banca, esse intervencionismo traduziu-se, nos EUA, na lei Glass-Steagall (1933), que separou, de forma muito clara, as actividades da banca comercial e a de investimento.

A vitória liberal, protagonizada por Thatcher e Reagan, no início dos anos 80, fez recuar o intervencionismo estatal, em particular no sector financeiro. A desregulamentação financeira está, aliás, na origem de dois graves problemas actuais. Em primeiro lugar, a absurda financeirização das economias que se lhe seguiu levou este sector a absorver uma proporção muito para lá do razoável dos recursos económicos. Em segundo lugar, realizou, de forma camuflada, gigantescas transferências de riscos que, quando foram desvendadas, provocaram o caos.

Este segundo aspecto relaciona-se com um dos mais graves problemas encontrados no sector financeiro: um abaixamento generalizado dos padrões éticos, com honrosas excepções.

Foi enganando este mundo e o outro que os grandes bancos americanos nos  trouxeram à crise do suprime, em 2007, que resultaria na falência do Lehman Brothers, a partir do qual todos os problemas se aceleraram. Em Portugal, também fomos vítimas de outro tipo de comportamentos menos correctos, como se tem vindo a verificar no grau de exotismo dos contractos de swaps, supostamente feitos para minimizar riscos e cujo resultado é o oposto.

O antigo presidente da Estradas de Portugal (EP) afirmou recentemente que sem o contrato swap celebrado em 2010 a empresa não teria conseguido obter financiamento nem na banca nacional nem internacional. Parece querer ele dizer com isto, que era imperioso que aquele contrato tivesse sido realizado. Pois eu fico com uma dúvida: se o contrato de swap é que permitia o acesso a crédito, que cláusulas leoninas conteria ele?

Apesar dos problemas descritos, a crise actual tem tido um impacto estranhamente limitado nas escolhas políticas dos principais países. Não sou propriamente partidário de um recuo genérico na liberalização económica, mas é um pouco estranho que não haja sequer mais tentativas nesse sentido.

Para além disso, esperar-se-ia uma forte reforma do sistema financeiro, para impedir a repetição dos problemas actuais. Em particular, esperar-se-ia uma qualquer versão actualizada da lei de separação entre a banca de investimento e a banca comercial, para impedir que jogadas de alto risco feitas no segmento de investimento contaminassem o sector mais tradicional e mais essencial à economia.

Isto não foi feito nos EUA, nem em Portugal, apesar de, no nosso país, a banca estar a beneficiar de montantes muito significativos de ajuda pública, em alguns casos para tapar buracos deixados pelas mais imprudentes apostas financeiras. Na verdade, a crítica da extrema esquerda, de “economia de casino”, acaba por ter uma razoável aderência à realidade, no sector da banca de investimento.

O que será necessário para que verdadeiras reformas sejam introduzidas? Mais uma catástrofe, como o fim do euro? Talvez, embora se deva acrescentar que, quando isso acontecer (e insisto em afirmar “quando” e não “se”), a falência do Lehman Brothers parecerá uma ligeira indisposição. 

[Publicado no jornal i]

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