quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Cavaco em Florença

Cavaco Silva tenta defender a tese que “o euro não é a causa da crise” e que esta decorre dos erros de gestão da moeda única que foram cometidos ao longo do tempo, mesmo reconhecendo as fragilidades estruturais do edifício do euro.


Segundo o nosso presidente, a UE tem todas as condições para resolver o problema, o “que tem faltado é a vontade política”. Já por diversas vezes Cavaco tem apresentado a ideia de que os problemas têm soluções que são independentes das ideias políticas de quem tem o mandato para os resolver. Como se o problema residisse em haver ou não haver coragem política para tomar as decisões que precisam de ser tomadas.


Talvez nos devêssemos antes perguntar porque é que tem faltado essa vontade política. Transferir soberania ou assumir o compromisso de pagar vultuosas quantias a países com os quais se tem, por vezes, uma muito vaga relação é algo que muitos eleitorados compreensivelmente não farão com facilidade.


Para um português a transferência de soberania pode não ser grande coisa, mas para vários países da UE a soberania, leia-se independência, é uma conquista recente e não algo que possa ser descartado sem mais.


Quanto às transferências, elas implicam uma subida de impostos para os países contribuintes e é longo o historial de lutas políticas pela defesa do princípio de “no tax without representation”. Os actuais governos europeus não estão mandatados para uma explosão das responsabilidades do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e é natural a sua relutância em avançar nesse sentido.


O nosso PR insurge-se contra a tendência de decisões em directório na UE, ignorando dois factos. Em primeiro lugar, as mais recentes alterações dos tratados europeus favoreceram essa mesma evolução. Em segundo lugar, o facto de se pedir vultuosas transferências a um número restrito de países vai necessariamente aumentar o seu poder político e gerar essa mesma tendência de decisões em directório.


Em resumo, Cavaco Silva vem propor soluções económicas para o euro, que ignoram por completo os obstáculos políticos actuais.

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