quinta-feira, 30 de junho de 2011

Mudança de governo

O meu artigo deste mês no Jornal de Negócios, com algumas expectativas sobre a mudança de governo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Desperdiçar capital político

Parece que o PSD anda em negociações para conseguir que Fernando Nobre seja eleito presidente da AR, formalmente a segunda figura de Estado. A propósito, não me recordo de nenhuma decisão importante de nenhum presidente da AR. Mas aquele médico conseguiu produzir um notável número de anti-corpos, problema que não consta que esteja em vias de curar, ou sequer de tentar.

No momento da gravidade da situação em que estamos, em que o PSD vai precisar do apoio parlamentar do PS em inúmeras e dificílimas reformas, parece o cúmulo da imprudência gastar um cêntimo que seja de capital político em fazer valer essa eventual promessa que o PSD possa ter feito ao então candidato.

O PSD pode dizer a Nobre que não ganhou a maioria absoluta e que não está nas suas mãos eleger sozinho o presidente da AR. A incapacidade de o PSD cumprir a sua promessa deve-se única e exclusivamente aos problemas criados pelo próprio Nobre, pelo que este não tem legitimidade de acusar o PSD de não cumprir a sua parte.

Acresce ainda, quer para Nobre, quer para o PSD, que é mais do que provável que ele fosse um mau presidente da AR, ignorando as normas regimentais e rapidamente ridicularizado pelos deputados mais experientes. Quer Nobre, quer o PSD deverão certamente querer evitar um tal cenário e o mais sensato será escolher outro candidato, que recolha o respeito da generalidade das bancadas.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Candidato presidencial?

Várias pessoas parecem convencidas de que Sócrates vai iniciar a sua preparação para candidato presidencial do PS em 2016. Façamos uma comparação com Guterres, para perceber como isso não faz um pingo de sentido.

Neste momento muitos já esqueceram, mas quando Guterres abandonou o governo a economia tinha crescido de forma significativa e a taxa de desemprego estava em 4%, o valor mais baixo desde o 25 de Abril. Para além disso, o PM conservou uma imagem de simpatia durante o seu consulado, embora a sua estrela viesse a empalidecer ao longo do tempo, à medida que se ia descobrindo a pesadíssima factura que deixou para os governos futuros, em particular nas SCUTs. Hoje é claríssimo que Guterres presidiu a uma governo que deu uma machadada fatal na nossa competitividade e no nosso potencial de crescimento, fontes importantíssimas dos nossos apuros actuais. Por tudo isto, Guterres nunca se atreveu a concorrer à presidência da República.

Sócrates acaba as suas funções de PM com o desemprego a bater recordes, com uma dívida pública e externa sem precedentes, com o país reduzido à condição de protectorado e inspirando uma profunda antipatia na generalidade da população. Mas como olhará o país para a herança de Sócrates em 2015, quando for altura de escolher os candidatos presidenciais? Nessa altura já Portugal terá reestruturado a dívida pública, se não estiver mesmo fora da zona do euro, o que deverá produzir uma dramática quebra de rendimentos.

Podemos sintetizar que Guterres conseguiu bons resultados económicos enquanto PM, mas à custa de destruir drasticamente o nosso futuro. Sócrates só devastou o nosso futuro, sem conseguir nada de significativo durante os seus mandatos. Acham mesmo que este terá a mínima hipótese como candidato presidencial? Se a sua falta de noção da realidade lhe apontar esse caminho, talvez isso seja o único meio de ressurreição possível de Guterres como candidato presidencial.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Aprender com os erros dos outros

A seguir ao 25 de Abril, foram inúmeros os desmandos que ocorreram em Portugal, quer na política, como o sequestro da Assembleia Constituinte (Novembro de 1975), quer na economia, incluindo as nacionalizações (Março de 1975), que decapitaram os maiores grupos económicos nacionais. Tudo isto teve um ponto final com o golpe do 25 de Novembro de 1975, em que o país regressou a uma certa normalidade, embora as nacionalizações não tenham sido revertidas.

Também em Novembro de 1975, Franco morre e Juan Carlos é proclamado rei de Espanha, abrindo caminho para uma transição para a democracia muito mais pacífica do que a portuguesa. Há aqui dois aspectos a referir, por um lado os desvarios portugueses funcionaram como uma forte vacina contra uma revolução e, por outro lado, o essencial dos disparates portugueses já tinha ocorrido.

Neste momento, Portugal tem a possibilidade de olhar para a Grécia como uma vacina mas, infelizmente, não tem a sorte que os espanhóis tiveram de terem visto o filme todo. Neste momento a tragédia grega ainda só vai a meio, o que a impede de ser uma vacina tão eficaz como nós fomos para os espanhóis.

Nas últimas semanas a Grécia esteve com muito sérios problemas, com dificuldades em conseguir que o FMI lhe entregasse mais uma tranche do empréstimo inicial e com os gregos a necessitar de um novo empréstimo. Finalmente, a troco de um novo pacote de austeridade, a Grécia lá conseguiu os novos fundos, sem os quais entraria em bancarrota, o que provocaria a falência de todo o seu sistema bancário, com graves perdas para os seus depositantes. Para além disso, uma bancarrota iria certamente provocar uma recessão muito mais profunda e prolongada, com muito mais desemprego. É evidente que ninguém engole com agrado um pacote de austeridade, mas parece que os gregos não estão a ver bem o significaria a sua alternativa, a bancarrota.

Pois neste momento, há vários ministros gregos que se opõem a reformas estruturais e cerca de 30 deputados socialistas que ameaçam demitir-se. Ou seja é o próprio partido no poder que está dividido. Como diz Yannis Stournaras, director de Iobe, um think-tank de Atenas citado pelo FT: “É muito perturbador que no preciso momento em que a Europa concorda em salvar a Grécia, parece que os políticos perderam a coragem de prosseguir”.

Veremos o que é que poderemos aprender (pela negativa) com os gregos, e esperemos que quem mais precisa de aprender – os sindicatos –, aprenda rapidamente para podermos sofrer o menos possível.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

“Maioria social”

Quer Silva Lopes, quer Carvalho da Silva, vieram já afirmar que o futuro governo não dispõe de uma “maioria social” para introduzir as reformas acordadas com a troika. É evidente que há aqui um óbvio preconceito de que o povo é de esquerda, mas há também uma outra ideia implícita, esta já mais interessante, de que a minoria mais ruidosa e capaz de interferir com as reformas não está com o próximo governo.

Esta minoria mais ruidosa é composta, sobretudo, pelos sindicatos da função pública e das empresas do sector empresarial do Estado. É importante que o governo não se deixe intimidar por manifestações, quantas vezes absurdas, como um caso recente contra a reforma do código do trabalho, em que a presença mais forte era dos sindicatos da função pública, precisamente aos quais o código não se aplica.

As privatizações e reestruturações a efectuar vão certamente criar fortíssimas resistências, pelo simples facto de os trabalhadores envolvidos não quererem perder os privilégios actuais mas, uma vez concretizadas, irão esvaziar estes protestos.

Não gosto de referir o ponto seguinte, o medo, mas este parece-me tão objectivo e incontornável, que não há volta a dar-lhe. A evolução recente da economia e do desemprego, bem como o que se espera que venha a acontecer nos tempos mais próximos foi e vai continuar a ser muito negativa, devendo o desemprego bater recordes sucessivos até 2013. O governo não deve reforçar este sentimento mas perceber que muitos protestos poderão ser ruidosos, mas sem força interior, muito dominados pelo medo.

Finalmente, refiro a recomendação de João Proença, de o novo governo não ser arrogante. Este conselho é do mais elementar bom senso, sobretudo depois do fim de um dos governos mais prepotentes que tivemos desde o 25 de Abril. Infelizmente, tivemos um mau sinal com o Miguel Relvas ontem a interromper as declarações, surpreendentemente honestas, de Vieira da Silva. O primeiro gesto do novo poder foi pisar o adversário. Espero que o PSD repense esta atitude e não queira criar obstáculos desnecessários no dificílimo caminho que tem pela frente.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Desvalorizações

O meu artigo deste mês no Jornal de Negócios, comparando três episódios de pedido de ajuda ao FMI, 1978, 1983 e 2011.