quarta-feira, 21 de abril de 2010

Erros de arquitectura?

O euro está numa encruzilhada e é importante tentar perceber se os problemas actuais resultam sobretudo de erros na arquitectura da moeda única (que os tem) ou se resultam sobretudo de erros de políticas nacionais.

Será que o problema está em não haver um orçamento central para enfrentar um choque assimétrico? Houve um primeiro choque financeiro assimétrico que introduziu vulnerabilidade nos países mais expostos ao subprime (Áustria, Irlanda, Holanda), mas que poupou Portugal e a Grécia. Houve depois um choque económico assimétrico que atingiu mais duramente os maiores exportadores (Irlanda, Alemanha, Holanda), e que, de novo, poupou Portugal e a Grécia, que caíram menos do que a média do euro em 2009.

Finalmente, surgiram os problemas de Portugal e Grécia (descontrolo das contas públicas e uma dívida externa galopante), que não caíram do céu, foram gerados por más políticas públicas.

Para quem tenha uma enorme atracção pela desresponsabilização, ainda se poderá argumentar que estas más políticas foram permitidas não tanto pela eventual má arquitectura do euro, mas pelo mau funcionamento das suas instituições. Este ponto parece-me exagerado, embora a “pressão dos pares” tenha funcionado mal. Por um lado, não houve suficiente pressão para controlar os défices e dívida pública nos tempos de vacas gordas e praticamente não houve pressão nenhuma para corrigir os défices externos. Em Portugal conseguimos o cúmulo de ser o próprio governador do Banco de Portugal a defender que nem nos devíamos preocupar com a nossa dívida externa galopante.

Poder-se-á fazer ainda uma analogia entre o que se passou no BPN e as contas públicas gregas. Toda a gente sabia (excepto o Banco de Portugal) que o BPN tinha negócios “esquisitos”, mas as suas contas continuaram a ser aceites como se viessem de fonte fidedigna. Também todos já sabiam que os gregos tinham aldrabado as suas contas públicas (só assim entraram no euro), mas, extraordinariamente, continuou-se a aceitar as contas públicas gregas como se viessem de uma entidade fidedigna.

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