domingo, 10 de janeiro de 2010

Martin Wolf, de novo

O importante artigo de Martin Wolf tem tido uma interessante discussão.

Gostaria de fazer algumas distinções sobre os países alvo do artigo. A Irlanda tem um complicado problema orçamental, mas não tem um problema de contas externas. Quer a OCDE quer a CE prevêem (ambas as previsões de Novembro último) que em 2011 o défice externo irlandês seja muito baixo (respectivamente, 0,6% e 1,5% do PIB). Nos próximos anos os custos unitários do trabalho vão cair, suportando a ideia de Martin Wolf de que a Irlanda já está a fazer a desinflação competitiva. Mas parece que a “dor” não será muito e os resultados serão alcançados rapidamente.

A Itália não sofreu uma tão grande deterioração das contas públicas (défice de 5,3% em 2009) e as suas contas externas também não se degradaram muito: o maior défice dos últimos anos foi de 3,4% em 2008. Este défice em si mesmo é pouco preocupante e deverá reduzir-se nos próximos anos. A desinflação competitiva necessária é aqui modesta e poderá processar-se sem conflitos de maior.

A Espanha sofreu um surto de deterioração das contas externas como o pico em 2007 (défice externo de 10% do PIB), estando já em nítida correcção, que deverá prosseguir, devendo chegar a 2011 com um défice de apenas 3% (OCDE). Os nossos vizinhos conseguiram a proeza de realizar uma parte importante da correcção durante a crise internacional e tudo indica que o restante ocorrerá sem sobressaltos de maior.

Já Portugal e a Grécia estão noutro campeonato. Ambos tiveram uma forte deterioração das contas públicas (mais grave na Grécia) que deverá manter défices muito elevados, caso não sejam aplicadas medidas vigorosas de correcção. Mas é no campo externo que se destacam mais. Portugal mantém um défice externo elevadíssimo desde 1999 que se deverá manter praticamente intacto até 2011 (data limite das previsões). Na verdade, como não houve correcção até aqui, o cenário “business as usual” é a manutenção desde défice elevadíssimo, embora pareça que o cenário “business as usual” é cada vez menos provável.

A Grécia também tem um défice externo muito teimoso (e que também se deverá manter intacto), embora os problemas sejam mais recentes: só em 2006 é que ultrapassou os 10% do PIB.

Portugal e Grécia estão numa situação de “venha o diabo e escolha”. O défice externo grego é mais elevado do que o português, mas a nossa dívida externa está numa trajectória muito mais perigosa. Entre 2006 a dívida externa grega caiu de 85% para 75% do PIB, enquanto a nossa subiu de 81% para 97% do PIB.

http://www.bankofgreece.gr/BogEkdoseis/sdos200910.pdf

O artigo de Martin Wolf é, assim, sobretudo dedicado a Portugal e Grécia.

Sem comentários: