quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Perda de tempo

O PM grego e o ministro das finanças português estão muito zangados com a reacção dos mercados à sua situação orçamental e à sua incapacidade de apresentar planos convincentes de redução do défice público.

http://www.ft.com/cms/s/0/222f40fc-0c20-11df-8b81-00144feabdc0.html

A argumentação do PM grego é patética, paranóica, diz que está a ser perseguido pelos que nunca gostaram do euro.

Já o nosso ministro das Finanças vira-se contra as agências de rating:

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=407247

É evidente que esta conversa ridícula se destina a consumo político interno. Haverá algum investidor internacional que altere a sua profunda desconfiança sobre as contas públicas destes dois países com base nas baboseiras que estes políticos disseram? E se em vez de perderem tempo com conversas da treta, fossem mas é trabalhar para produzir resultados a sério?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mais um BPN?

O meu artigo deste mês no Jornal de Negócios, sobre os problemas da banca nacional, partindo dos dados e análise do último relatório do FMI.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=406919

Mas que surpesa!

Imaginem lá que a Fitch está a preparar o caminho para baixar o rating da República! Quem poderia imaginar uma tal reacção face ao “maravilhoso” orçamento que o governo apresentou?

http://economico.sapo.pt/noticias/ficth-ameaca-cortar-rating-de-portugal_79931.html

Cenário macro menos delirante

O governo ainda não colocou em linha o relatório do orçamento para 2010, mas o cenário macroeconómico está disponível nas GOP. Para este ano o governo prevê um crescimento de 0,7%, em linha com as previsões do Banco de Portugal, embora com algumas diferenças a nível das suas componentes. Enquanto o banco central não confiava na redução do consumo público, o governo “promete” uma redução de 0,9%.

O cenário do governo também é mais “virtuoso”, ao estimar uma menor queda no investimento e um maior crescimento nas exportações do que o Banco de Portugal.

Este cenário é globalmente menos delirante do que o cenário inicial do orçamento do ano passado, mas tinha que manter uma certa dose de fantasia, ainda e sempre na estimativa para o desemprego, que o governo estima que suba para apenas 9,8%. Esta previsão é impossível de se concretizar e incoerente com a perspectiva de crescimento do próprio governo. De acordo com o INE, o desemprego já atingiu esse mesmo valor no 3º trimestre de 2009. Segundo o Eurostat, já ultrapassou os 10% entretanto. Com a economia anémica é evidente que o desemprego vai continuar a subir ao longo de 2010, sendo impossível de se fixar no valor “previsto” pelo governo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O pior sinal

Se o governo não conseguir ou não quiser congelar os salários da função pública em termos nominais estará a enviar aos mercados o pior sinal. Os investidores percebem muito bem que a maior dificuldade em controlar as contas públicas é política e, de maneira nenhuma, um problema técnico.

Se o governo não congelar os salários isso será uma fortíssima indicação de fragilidade política, destruindo por completo a credibilidade de qualquer programa de consolidação orçamental. Se o governo não consegue o mínimo no início da legislatura, como conseguirá fazer aprovar as medidas que doem a sério?

Más notícias

As notícias preliminares sobre o orçamento são muito negativas. Em vez de congelar os salários da função depois do aumento eleitoralista do ano passado, parece que o governo vai apenas mantê-los em termos reais. Segundo o Jornal de Negócios, as transferências para as autarquias vão aumentar 20%(!). De contenção só se ouve falar em diminuição do investimento público, o que não é uma medida de redução sustentada do défice, e alguma contenção no número de funcionários.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=406473

Quanto à redução do défice para 2010, parece não haver. Fala-se num défice de 8,3% para este ano, acima das últimas estimativas para o défice de 2009.

Parece que o governo não levou a sério os receios dos investidores de continuarem a aplicar o seu precioso dinheiro em dívida pública portuguesa. Preparem-se para uma péssima recepção pelos mercados…

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tenham muito medo

Mário Nogueira escreve hoje no Público que este “foi o mais importante acordo alcançado pelos professores nos últimos 20 anos”. Esta é a pior notícia orçamental dos últimos tempos.

Diz também que só foi possível “devido à sua tremenda luta”. Engana-se: só foi possível graças a doses cavalares de cobardia e irresponsabilidade do PS e PSD. O envolvimento do PSD neste caso, para contribuir para este resultado, é do piorio.

Ágora, um filme sem Deus

Muitos ateus que se apercebem que em muitas religiões se “venera” um deus criado (na verdade, distorcido) pelos homens, julgam que o divino se esgota aí. É verdade que muitas religiões são os piores embaixadores de Deus, mas o que quer que os homens façam, mesmo em nome de deus, não põe em causa o Deus Divino.

O filme Ágora, passado em Alexandria no século IV, relata um conjunto de guerras religiosas, primeiro entre pagãos e cristãos, depois entre estes e os judeus. É descrito um fundamentalismo cristão ao serviço do poder terreno e a guerra praticamente não é ideológica, é mesmo de espada. É introduzido mesmo um conceito de cristão novo, conceito este também ao serviço do poder.

A Palavra Revelada é distorcida para servir o deus dos homens, ao serviço do desejo egoico de poder. Em nenhuma das três religiões representadas há matizes, em nenhuma surge algum representante mais próximo do verdadeiro divino, que pusesse em causa o estilo dominante da sua própria religião. Todas as religiões são mal tratadas, mas o cristianismo é descrito como exibindo uma crueldade gratuita.

Só se “salva” a filósofa Hypatia, agnóstica, que representa a liberdade, embora quase sem vida afectiva.

Não tenho competência para o avaliar como filme nem em termos históricos mas, em termos ideológicos, não gostei. É um filme sobre o deus dos homens, em que o Deus Divino é o grande ausente.

Como nota final, considero que a utilização de actores muito novos para representar personagens mais velhas não resulta nada bem.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Economia menos má não ajuda orçamento

As novas encomendas na indústria (um indicador avançado) estavam menos más em Novembro, segundo o INE.




No entanto, nada disto deve ser suficiente para qualquer robustez económica em 2010 que permita uma visão tranquila sobre as contas públicas. As agências de rating já voltaram a avisar que estão com grande expectativas sobre o orçamento de 2010. Grandes expectativas, não no sentido de estar muito esperançosas. É evidente que se estão a preparar para fazer mais sangue.

Outras prioridades

Os últimos anos na educação foram perdidos a discutir a avaliação dos professores (um mero pretexto para introduzir necessárias restrições à brutal expansão da despesa). Entretanto, esqueceu-se o desastre completo em termos da nossa posição relativa na Europa, como se pode ver do gráfico abaixo, retirado de Banco de Portugal (2009) A Economia Portuguesa no Contexto da Integração Económica, Financeira e Monetária, p. 72:




Enquanto o governo e os sindicatos nos faziam perder tempo com questões secundárias, a divergência ia-se agravando. Repare-se que nós somos não só os piores da UE, como aqueles onde se registaram progressos menores.

Coragem

No meio de muito eleitoralismo e cobardia, cumpre destacar a coragem de Passos Coelho em defender o congelamento de salários na função pública e das prestações sociais em geral.

http://economico.sapo.pt/noticias/passos-coelho-quer-salarios-congelados-na-funcao-publica_78404.html

Ainda não se percebeu qual é o tipo de acordo que a actual direcção do PSD pretende fazer com o PS em termos orçamentais, mas temo que não sirva os interesses do país.

É incrível o delírio e a hipocrisia de Sócrates de dizer que o défice e a dívida ainda não são a prioridade, mas sim o combate à crise. É delirante porque os mercados financeiros estão muito preocupados com a sustentabilidade das finanças públicas e Portugal não se pode dar ao luxo de os desapontar. É hipócrita porque o minúsculo pacote de 2009 de combate à crise foi executado em pouco mais de metade e a más horas, até porque o descalabro orçamental que vinha de trás não permitia mais.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Martin Wolf, de novo

O importante artigo de Martin Wolf tem tido uma interessante discussão.

Gostaria de fazer algumas distinções sobre os países alvo do artigo. A Irlanda tem um complicado problema orçamental, mas não tem um problema de contas externas. Quer a OCDE quer a CE prevêem (ambas as previsões de Novembro último) que em 2011 o défice externo irlandês seja muito baixo (respectivamente, 0,6% e 1,5% do PIB). Nos próximos anos os custos unitários do trabalho vão cair, suportando a ideia de Martin Wolf de que a Irlanda já está a fazer a desinflação competitiva. Mas parece que a “dor” não será muito e os resultados serão alcançados rapidamente.

A Itália não sofreu uma tão grande deterioração das contas públicas (défice de 5,3% em 2009) e as suas contas externas também não se degradaram muito: o maior défice dos últimos anos foi de 3,4% em 2008. Este défice em si mesmo é pouco preocupante e deverá reduzir-se nos próximos anos. A desinflação competitiva necessária é aqui modesta e poderá processar-se sem conflitos de maior.

A Espanha sofreu um surto de deterioração das contas externas como o pico em 2007 (défice externo de 10% do PIB), estando já em nítida correcção, que deverá prosseguir, devendo chegar a 2011 com um défice de apenas 3% (OCDE). Os nossos vizinhos conseguiram a proeza de realizar uma parte importante da correcção durante a crise internacional e tudo indica que o restante ocorrerá sem sobressaltos de maior.

Já Portugal e a Grécia estão noutro campeonato. Ambos tiveram uma forte deterioração das contas públicas (mais grave na Grécia) que deverá manter défices muito elevados, caso não sejam aplicadas medidas vigorosas de correcção. Mas é no campo externo que se destacam mais. Portugal mantém um défice externo elevadíssimo desde 1999 que se deverá manter praticamente intacto até 2011 (data limite das previsões). Na verdade, como não houve correcção até aqui, o cenário “business as usual” é a manutenção desde défice elevadíssimo, embora pareça que o cenário “business as usual” é cada vez menos provável.

A Grécia também tem um défice externo muito teimoso (e que também se deverá manter intacto), embora os problemas sejam mais recentes: só em 2006 é que ultrapassou os 10% do PIB.

Portugal e Grécia estão numa situação de “venha o diabo e escolha”. O défice externo grego é mais elevado do que o português, mas a nossa dívida externa está numa trajectória muito mais perigosa. Entre 2006 a dívida externa grega caiu de 85% para 75% do PIB, enquanto a nossa subiu de 81% para 97% do PIB.

http://www.bankofgreece.gr/BogEkdoseis/sdos200910.pdf

O artigo de Martin Wolf é, assim, sobretudo dedicado a Portugal e Grécia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Confiança em queda

Ao contrário do que se passa na UE (falta o valor de Dezembro), a confiança dos consumidores em Portugal está em queda e em queda acentuada (os valores em média móvel ainda não espelham este efeito). Porquê? Estas tentativas de explicação são sempre um pouco debatíveis, mas parece que as razões deverão encontrar-se mais na política do que na economia.

Do lado da economia, as perspectivas têm vindo a melhorar, esperando-se de uma recuperação, embora tímida e incapaz de suster a subida do desemprego. Do lado político, temos o governo e a oposição a portarem-se como se ainda estivessem em campanha eleitoral. Ou, melhor dizendo, já em nova campanha eleitoral, a prepararem-se para eleições antecipadas que, ainda por cima, nenhum dos partidos deseja. A mensagem que passa para os eleitores é a de um país paralisado, sem um governo capaz e sem uma alternativa capaz.

Usando as palavras de Miguel Gaspar, ao governo não cabe apenas a missão de tentar governar, cabe a missão de conseguir governar. O governo é, em última análise, responsável por encontrar as soluções governativas para os problemas do país, que não são poucos. Uma coisa é certa: os portugueses não estão a gostar nada do que se está a passar.

O governo pode tentar refugiar-se no papel de vítima mas, pergunto eu, para que serve votar num governo que é vitima das circunstâncias externas e não é capaz de as influenciar?

Entre a asneira e o egoísmo

“A Comissão Europeia (CE), liderada por Durão Barroso, vai recorrer ao Tribunal de Justiça Europeu da decisão dos Estados-membros de cortar para metade os aumentos salariais dos funcionários das várias instituições. A legislação comunitária dita que o aumento anual do ordenado dos cerca de 45 mil trabalhadores é de 3,7%, mas o Conselho dos 27 decidiu em 2010 não ir para além dos 1,85%, por causa da crise económica.

“Confrontado com o conflito entre a CE e os Estados-membros, o eurodeputado do PS, Capoulas Santos, foi peremptório: "Nestas questões, deve prevalecer sempre aquilo que está previsto na lei, independentemente de quaisquer imprevistos, nomeadamente se a inflação aumentou ou diminuiu." Também o eurodeputado social-democrata Mário David é da opinião de que "a Comissão Europeia está apenas a cumprir aquela que é uma das suas competências", ou seja, "ser guardiã dos tratados".”

http://www.correiodamanha.pt/Noticia.aspx?channelid=00000090-0000-0000-0000-000000000090&contentid=404C257C-1890-4D4F-8734-77E6D9B04EE3&h=2

A Europa está longe dos cidadãos e é mal querida? Pois bem, aumente-se a impopularidade. Enquanto a Comissão Europeia vai exigindo um forte aperto orçamental num prazo muito curto aos estados-membros, atribui-se a si própria (e aos seus) aumentos escandalosos sobre salários de base já principescos. É evidente que isto não é apenas um erro político, deriva também de um dose muito “generosa” de egoísmo.

A argumentação dos eurodeputados portugueses então é maravilhosa: a gestão da coisa pública deve ser imune a imprevistos tão insignificantes como a maior crise económica e financeira dos últimos 80 anos.