quinta-feira, 19 de junho de 2008

Argumentos de autoridade na educação

Um importante sinal e influência do subdesenvolvimento é a predominância dos argumentos de autoridade sobre os argumentos de razão. O argumento do “eu é que sou chefe, eu é que sei”, sem mais explicações, é um dos mais miseráveis argumentos, que induz a menoridade cívica.

Infelizmente, foi isso exactamente que tivemos. Critica a Sociedade Portuguesa de Matemática: “Não é credível que as negativas tanto no 4º ano quanto no 6º tenham caído este ano para menos de metade por os alunos terem melhorado extraordinariamente as suas capacidade matemáticas de um ano para o outro.” Um crítica perfeitamente atendível. Qual a resposta do Gabinete de Avaliação Educacional?
“são pessoas que de certeza absoluta não sabem nada de avaliação educativa”. Vejam bem a miséria argumentativa. Isto é 0% argumento de razão e 100% argumento de autoridade. Uma vergonha.

Mas percebe-se. “Foi com "particular agrado" que a ministra da Educação anunciou ontem a "melhoria significativa dos resultados" nas provas de aferição do 4.º e 6.º anos. Sobretudo na disciplina "em relação à qual se pensa que há uma fatalidade." Não há e as notas estão aí para o provar, declarou Maria de Lurdes Rodrigues.” (Público de hoje, p. 5). Está-se mesmo a ver o filme. A ministra quer acabar com esta “fatalidade” e manda fazer testes ridiculamente fáceis. A estatística agradece, mas o desastre matemático mantém-se intacto.

“A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou hoje "um erro" as críticas da Associação de Professores de Português (APP) ao exame nacional da disciplina do 12.º ano, realizado ontem por 60 mil alunos.

“Em comunicado, a APP considerou que o I Grupo da prova, onde é apresentado um excerto de “Os Lusíadas”, “apresenta um grau de dificuldade elevado, não só devido à formulação não muito clara da pergunta 2, mas também devido ao excerto escolhido”. link: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1332764

A ministra, do alto da sua autoridade, declara o “erro” dos outros, mas não apresenta um único argumento racional a sustentar porque é um “erro”. Aliás, um erro é a ministra imiscuir-se nestes pormenores. Não é suposto a ministra dominar os pormenores técnicos dos exames saídos do seu ministério. Esta intervenção só lança a suspeita de que os exames não são feitos baseados em critérios científicos, mas políticos.

Os argumentos de autoridade são sempre miseráveis em qualquer contexto. Mas no contexto educativo são ainda mais miseráveis, porque é justamente aqui que é suposto incentivar-se o espírito crítico e a autonomia.

Sem comentários: