quinta-feira, 1 de maio de 2008

O futuro é agora?

Passos Coelho e seus apoiantes falaram bastante do passado e quase nada sobre o futuro num debate de “ideias” com o tema “Portugal, que futuro para a economia”.

http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF191469

“Passos Coelho criticou «a obsessão do défice que existe desde 2002», considerando que está «a destruir a economia, as empresas e o emprego» e que se anda «há sensivelmente sete anos a tentar resolver o problema com medidas temporárias, provisórias».

«Temos de parar um pouco neste caminho, que não pode ser imputado estritamente ao PS, nós também já cometemos esse erro», sustentou.”

São por demais evidentes as farpas contra Manuela Ferreira Leite. Se algumas opções tomadas são criticáveis, as críticas têm que ter qualidade. Criticam-se as medidas, mas não se fala nas alternativas. Convém não esquecer que em 2002 o Pacto de Estabilidade era bem mais impiedoso que hoje e era mesmo necessário tomar medidas. As medidas “criativas” não foram tomadas debaixo da mesa e destinaram-se a evitar medidas mais draconianas. Quais eram as alternativas? Subir mais impostos? Cortar mais investimento público? É óbvio que não se aceitam alternativas abstractas do tipo “cortar mais despesa”. Deviam-se ter despedido milhares de funcionários públicos?

As críticas, para além de qualidade, devem constituir um todo coerente. Primeiro critica-se que o défice sufocou economia. Depois diz-se que receitas extraordinárias foram erradas. Então, mas as medidas extraordinárias não surgiram justamente para deixar uma certa folga e não provocar todo o ajustamento num só momento?

Há uma outra questão escamoteada. Em 2002 os portugueses andavam na lua, não faziam ideia nenhuma da intensidade das reformas necessárias, pelo que as medidas de contenção orçamental tinham um custo político elevadíssimo. Com as posteriores quedas de expectativas, o custo político foi baixando sucessivamente, o que muito beneficiou Sócrates. Que beneficiou ainda com o facto de a realidade ter desfeito a ideia de que controlar o défice era uma política da “direita”.

Também não percebo a lógica de, na ânsia de criticar Manuela Ferreira Leite, se chegar a elogiar Sócrates, por ter ido mais longe. Esta atitude é miopia, é só ver o problema imediato (eleições para a liderança do PSD) e não ver os problemas seguintes (eleições de 2009). Incompreensível.

Finalmente, para quem enche a boca a criticar a “contabilidade” e a elogiar a “estratégia”, é estranhíssimo não se ouvir uma palavra sobre a estratégia económica concreta. Esta coisa de criticar os outros e não apresentar alternativas é algo que está ao alcance de qualquer trabalhador não diferenciado. Mas para liderar um partido e um país é necessário um “pouco” mais.

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