segunda-feira, 31 de março de 2008

O que é preciso mais para o PSD acordar?

Segundo sondagem publicada hoje no Correio da Manhã, Menezes (menos de 13%) consegue ficar atrás de Marcelo Rebelo de Sousa (35,5%), Rui Rio (31,6%) e Santana Lopes (14,2%) como o preferido pelo eleitorado do PSD para defrontar Sócrates em 2009. Dá ideia que se também tivessem incluído na lista o Presidente da CM de Alguidares de Baixo, Menezes também conseguia ficar abaixo dele.

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000009-0000-0000-0000-000000000009&contentid=F340EA44-2695-432F-9EF1-ABB52BF6C855&goComments=1#comentarios

Tenho ideia que nunca se assistiu a tamanha degradação. Um líder que não podia ser mais indesejado, um verdadeiro anti-D. Sebastião. Espero que não venham de novo com a conversa ridícula que quem contesta o “líder” está a fazer mal ao partido: o actual “líder” é que está a fazer muito mal ao PSD.

Propaganda oca

Segundo os dados publicados hoje pelo INE, a confiança dos consumidores continuou a cair e está cada vez mais próxima dos mínimos de 2003.

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=10865338&DESTAQUESmodo=2

“As expectativas sobre a evolução da situação financeira do agregado familiar atingiram em Março um novo mínimo histórico para a série iniciada em Junho de 1986.”

“As opiniões sobre a situação económica do país mantiveram a trajectória descendente iniciada em Março de 2007, registando o mínimo desde Agosto de 2003.”

O problema com estes dados deve ser que ainda não incorporam a descida do IVA, parte substancial da qual vai passar despercebida aos consumidores. Pois, sim.

Como se vê, a propaganda do governo está a ter resultados manifestamente insuficientes. Nunca, desde a adesão à UE, as famílias estiveram tão pessimistas sobre o futuro. Aquele optimismo irrealista da entrevista recente do Sócrates não convenceu ninguém.

E o PSD, o que anda a fazer? A aumentar o desespero das famílias, que não só se sentem mal, como não vêm um mínimo de alternativa credível.

domingo, 30 de março de 2008

Menezes imparável no disparate

Do Diário de Notícias de hoje, p. 25, “o presidente do PSD prometeu que, se for eleito primeiro-ministro em 2009, no final do seu mandato o IVA será de 16 por cento, como é actualmente em Espanha.”

Estamos muito curiosos em conhecer o documento e os nomes dos especialistas seus autores, no qual se baseia esta promessa. Infelizmente, cheira-me que o documento foi uma rabanada de vento e o seu único autor, Menezes.

Quem é que pode acreditar, durante um milésimo de segundo que seja, na seriedade desta proposta? Como é que alguém que tem a megalómana ambição de ser PM pode imaginar que em Portugal há tolos suficientes para engolir tamanha patranha? O que mais impressiona em Menezes, nem são as suas asneiras, mas a sua total incapacidade de aprendizagem. Não ouviu ainda suficientes críticas à sua falta de credibilidade? Precisa de fornecer ainda mais provas dessa mesma falta de credibilidade?

Génios do marketing

Há para aí uns génios do marketing que recomendaram vivamente a Sócrates que fosse inconsistente. Inconsistente com a forma como se apresentou no passado e inconsistente com o que ele é. Depois da entrevista televisiva encenada, para mostrar o lado pessoal, mas que, mais do que simbolicamente, não saiu do hall de entrada, agora temos a asneira renovada.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324076

“Sócrates assume "face humana" após “três anos a disfarçar estados de alma”. Só a fotografia é um monumento. Que ganhos esperam destas fitas? Julgam que alguém vai engolir estas tretas. Estão a estragar uma imagem de dureza, apesar de tudo com alguma sinceridade, para um sorriso de plástico que não convence ninguém. Devem achar que os portugueses são um bando de idiotas que engravidam de ouvido.

sábado, 29 de março de 2008

sexta-feira, 28 de março de 2008

Banha da cobra clandestina de Sócrates

“Sócrates diz que descida do IVA é socialmente mais justa do que a do IRS”(…) “O IVA beneficiará todos, mesmo os cidadãos que não pagam IRS".

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/nacional/economia/pt/desarrollo/1105362.html

Isto é duplamente ridículo. Em primeiro lugar, com as suspeitas crescentes de que muitas empresas não vão repercutir a descida do IVA nos preços, é pelo menos muito provável que parte da descida dos impostos não chegue a nenhum consumidor.

Em segundo lugar a descida do IVA beneficia os mais ricos, ainda que proporcionalmente menos. Uma descida do IRS poderia ser desenhada de forma a beneficiar mais os mais pobres. Imaginem o seguinte exemplo. Uma família com 500 euros de rendimento, que gaste 50% do rendimento em bens e serviços à taxa normal de IVA, gasta 250 euros e vai poupar (admitindo descida de imposto totalmente reflectida no preço) 2,07 €/mês, ou seja, 0,41% do rendimento. Outra família com 5 mil euros de rendimento, mas que só gasta 30% do rendimento em bens com IVA à taxa normal. Esta família gasta 1 500 euros e vai poupar 12,40 €/mês, seis vezes mais do que a primeira família. É verdade que a poupança da segunda família é apenas 0,25% do seu rendimento, enquanto na primeira é de 0,41%. Mas a poupança em euros é muito maior para os mais ricos.

Quanto a beneficiar mesmo os que não pagam IRS, muitos destes são beneficiários de outras prestações do Estado, poderiam receber por aí. Também não seria pior aproveitar a ocasião para acrescentar uma componente ao IRS, um escalão negativo (quando o rendimento está abaixo de certo montante, passa a receber um subsídio), que em muito poderia melhorar a distribuição do rendimento.

"Tomara eu poder já descer em dois por cento [a taxa máxima do] IVA", declarou José Sócrates em resposta a uma intervenção do vice-presidente da bancada socialista Afonso Candal.”

Mas que bela encenação, é mesmo uma espertalhice muito convincente. Acho que merece o Prémio Luís Miguel Cintra 2008.

"Aproveitando o período de resposta a perguntas formuladas pela bancada do PS, por duas vezes José Sócrates quis vincar a seguinte imagem: "os portugueses podem agora ter a certeza que, em matéria de contas públicas, a casa agora está em ordem".

Deixem-me rir. Com um défice de 2007 a apenas 4 décimas dos fatídicos 3%; com perspectivas económicas para 2008 piores do que para 2007, coisa que o governo insiste em ignorar; com uma redução do défice feita excessivamente com base em resultados extraordinários na receita (recuperação de dívidas passadas) e pouco do lado da despesa; com uma reforma da administração pública que não sai do adro e é torpedeada por providências cautelares a propósito de tudo e de nada; etc, etc.

a casa agora está em ordem”??? Isto é um sucedâneo de banha da cobra, de produção clandestina, sem o respeito de normas mínimas de higiene.

Seis meses de Menezes, uma eternidade

Faz hoje seis meses que Menezes foi eleito líder do PSD em directas. Em sondagem publicada no Jornal de Negócios (ver abaixo) Santana Lopes é votado o segundo pior PM de sempre, só suplantado por Sócrates.

Mas quer-me parecer que as razões porque ambos aparecem em posições destacadas são bem diferentes. Presumo que Sócrates aparece destacado por ter afrontado os professores, por fechar urgências, etc. Ou seja, por tomar medidas de algum reformismo, embora por vezes com uma brutalidade incompreensível. Como sintetiza muito bem Campos e Cunha em entrevista do Diário Económico de hoje: “se se pode resolver um problema a mal, para quê resolver a bem?” Já com Santana o problema não eram as medidas de fundo, que não tomou, mas simplesmente porque tudo aquilo era mesmo demasiado caótico, demasiado mau.

Ao longo dos últimos meses Menezes veio a confirmar-se com um Santana em versão piorada. Não acredito que reste a menor sombra de dúvida nos melhores quadros do PSD (nem todos são barões) que é uma vergonha o PSD apresentar-se com Menezes às eleições de 2009. Já Pacheco Pereira chamou a atenção para o excesso de calculismo. Com Menezes à frente o PSD está a esfrangalhar-se e depois pode ser tarde de mais para apanhar os cacos.

“Sócrates é considerado o pior primeiro-ministro de sempre”

“Sócrates é considerado o pior primeiro-ministro de sempre, em Portugal, segundo a sondagem realizada para a Exame pelo Gemeo-Gabinete de Estudos de Mercado e Opinião, do IPAM.”

http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?CpContentId=314187

“Em segundo pior aparece Santana Lopes com 14%, seguido de António Guterres com 7%, e Durão Barroso e Vasco Gonçalves com 4%, e Soares com 3%.”

“O melhor primeiro-ministro salta à vista. Cavaco Silva reúne 23% das escolhas, sendo votado maioritariamente por homens. Neste ranking, José Sócrates aparece na segunda posição com 8%, na terceira vem Mário Soares com 7%, e na quarta Francisco Sá Carneiro, com 5%.”

Não ponho as minhas mãos no fogo pela credibilidade desta sondagem, mas lá que Sócrates provoca muitos anti-corpos, isso é indesmentível.

Em relação ao pior PM eu gosto de distinguir entre o pior durante o seu mandato e o pior pelas consequências que deixou para além do seu mandato. Em relação a pior durante o seu mandato, parece-me que Santana Lopes merece a palma. Quanto ao PM que deixou piores consequências, quem ganha destacado é o Guterres, que malbaratou, de forma totalmente irresponsável, a entrada no euro. Ainda hoje estamos a pagar esses erros crassos.

É evidente que Guterres tem mais categoria do que Sócrates, mas Guterres deixou uma herança pior do que a que Sócrates vai deixar.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Diz o nu ao remendado

Menezes, do Público de hoje, p. 2: “Há quinze dias, o primeiro-ministro, perante a minha proposta articulada e consistente [já pararam de rir?] de descer impostos, considerou tal possibilidade leviana e irresponsável.” Já aqui critiquei essas afirmações de Sócrates.

No Diário de Notícias, p. 3, o comentário de Menezes ainda é mais divertido: a descida “é irrelevante e casuística, desenquadrada de metas de longo prazo”. Pois não é isto que podemos dizer de praticamente tudo o que Menezes tem dito? Com a agravante de se contradizer. Pior do que uma colecção de medidas sem fio condutor é fazer afirmações contraditórias.

Quantas mais tiradas “brilhantes” como esta vamos ter que ouvir até que o PSD perceba que isto não é “líder” que se apresente? O país precisa de uma oposição de jeito.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Descida do IVA

Pontos a favor:

  • Um certo desmentido da mentira eleitoral de não subir impostos. Sócrates abre a porta para nova descida em 2009, provavelmente de novo a meio do ano, que sai mais barato. Acabaria o IVA ao nível em que o PS o recebeu.
  • Em termos de timinig é uma boa jogada política. Não é completamente em cima das eleições, não fica ridiculamente eleitoralista. Uma eventual nova descida fica com a desculpa que vem na sequência desta medida e não soa tão eleitorialista.
  • Coloca pressão para reduzir a despesa.

A desfavor:

  • Abertura do cinto antes do fim da cura de emagrecimento. Acontece por vezes que esta antecipação do fim deite a perder todo o trabalho feito.
  • Adia o momento em que política orçamental pode voltar a ser contra-cíclica, isto é, estabilizadora. Esta seria uma das críticas mais ferozes que se poderiam fazer. No entanto, como eu considero que o problema económico português é sobretudo o de falta de competitividade e não o de falta de procura, acabo por não considerar esta questão tão grave. Como não recomendo qualquer estímulo orçamental nos próximos anos, não me preocupa que esta medida adie as condições para a aplicação deste instrumento.
  • Podiam ter ajustado em baixa ligeira a previsão de crescimento para 2008. Com tantas nuvens a materializarem-se no horizonte e os primeiros dados da economia portuguesa bastante fracos, era o mínimo. Assim reforça-se a ideia de que esta descida dos impostos assenta em pressupostos cada vez mais irrealistas.
  • Não é seguro que a descida de impostos se reflicta em redução de preços ao consumidor e tenha assim reflexo no bem estar das famílias.
  • A espertalhice de baixar o IVA só a partir de meio do ano, salvando assim a diminuição do défice.
  • A demagogia de ter chamado “leviana” a uma proposta do PSD de há pouco tempo de baixar os impostos.

Do ponto de vista económico, estou contra esta medida. Do ponto de vista político, acho difícil um governo resistir a esta tentação. É claro que, segundo as sondagens (que poderão, aliás, melhorar com esta medida), o PS é que está em melhores condições de ganhar as eleições de 2009. Mas é politicamente muito duro, fazer o trabalho de casa que permite baixar os impostos e depois ver o governo seguinte (sobretudo se for de outra cor e há sempre esse risco) colher os frutos.

Finalmente, uma semi-boa-ideia

Menezes, Diário de Notícias de hoje, p. 17, “propôs ontem que a definição dos horários do comércio passe a ser uma competência municipal para estimular a competitividade entre as cidades”. Percebe-se como isto se aplica à guerra Porto-Gaia, mas não deixa de ser uma boa ideia. Ou uma semi-boa-ideia.

Não concordo com o intervencionismo de o Estado (em qualquer das suas instâncias) limitar a livre interacção entre produtores e consumidores. Defendo que deveria haver uma norma constitucional que garantisse esta mesma liberdade, que o Estado só poderia pôr em causa por razões de saúde e segurança.

O caso das discotecas prende-se com a lei do ruído e julgo que não será necessário uma norma constitucional para garantir o direito ao sossego nocturno.

A quem se abespinhar com esta proposta pergunto: o estado natural não é o da liberdade? Não é a intervenção que deve ter o ónus da prova? Ou será que primeiro temos que pedir licença ao Estado para respirar e só depois o podemos fazer? Eu sei que há séculos que Portugal vive com um Estado super-intervencionista e que a liberdade nunca teve grandes defensores: vejam-se os anti-fascistas, a maior parte dos quais são os mais ferozes inimigos da liberdade.

terça-feira, 25 de março de 2008

Sindicatos não reivindicam

Mário Nogueira, actual secretário geral da Fenprof, diz no Diário de Notícias de hoje, p. 64, que para o Ministério da Educação “Lidar com a indisciplina não é uma prioridade”, qualquer formação na área não conta para a avaliação de desempenho.

Pois, parece que para a Fenprof a indisciplina também não é uma prioridade. Se fosse, certamente já teriam feito a reivindicação de que passasse a ser, reivindicação talvez reforçada com uma greve, ou mesmo um desfile nacional de professores até ao Terreiro do Paço, em Lisboa.

Privatizar EPUL

“EPUL adia por um ano entrega de casas compradas por jovens em Entrecampos” do Público de hoje, p. 26. “No Martim Moniz há jovens há espera de apartamento há quase cinco anos”

Esta empresa acumula casos de flagrante incompetência, para já não lhe chamar outras coisas. A CML ter uma empresa de construção civil, quer para construir novo ou reabilitar (como para ser a ideia mais recente), é um erro. Sai muito mais barato fazer concurso e procurar a melhor relação preço-qualidade em cada caso. Estou certo que, posta a concorrer com os privados, tal como está, a EPUL perderia todos os concursos. Privatize-se pois esta empresa, o que até ajudaria as contas da autarquia.

Mais do que o obstáculo ideológico à privatização, cheira-me que o problema é a perda de uns “lugarzitos”…

CGD e o nosso dinheiro

Segundo o Diário Económico de hoje: “A compra do banco basco Guipuzcoano, que vale 1,5 mil milhões, está em cima da mesa. Caixa aposta no mercado espanhol.”

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/destaque/pt/desarrollo/1103855.html

Os bancos portugueses são dos mais ineficientes da Europa e os espanhóis são dos mais eficientes. Não se vislumbra nenhuma vantagem comparativa que justifique que os bancos portugueses entrem em Espanha, porque eles entram no país vizinho com uma “tecnologia” pior do que eles já têm.

Algum tipo de entrada, para apoiar o investimento e comércio português com Espanha tem justificação, mas lidar com o cliente espanhol típico não tem sentido. Agora, apostar num banco regional, situado numa região com a qual Portugal nem tem especial afinidade, que lógica tem?

Isto cheira à velha lógica da burocracia pública, explicada por Niskanen, que visa a maximização da dimensão e não do lucro. Estas internacionalizações baseadas apenas em ter fundos para investir (e têm?), sem ter uma vantagem comparativa que justifique o negócio, já se sabe que vão dar para o torto. E quem paga é o contribuinte.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Portugal no seu melhor

“Refer desconhece que Linha do Tua vai ser encerrada devido à nova barragem” (Público de hoje, p. 24). Desconhece “oficialmente”, “embora reconheça que tem acompanhado o assunto pelos jornais”. Mas a Refer “tem em curso um plano de investimentos de cerca de dois milhões de euros para a consolidação da via férrea”.

Inacreditável! Em primeiro lugar, se a Refer for avante com este programa de investimento, julgo que se justifica o “despedimento” por justa causa da actual administração. É verdade que há incompetência dos ministérios que tutelam este assunto de não informar a Refer mas, se o assunto vem nos jornais, o mínimo não seria pedir esclarecimentos à tutela, sobre qualquer eventual lapso da tutela, evitando mesmo embaraços à mesma?

É intolerável esta estreitíssima visão burocrática de quem é que pode falar com quem e quem é que pode ter iniciativa, etc. Quem não tem capacidade de iniciativa para resolver uma questão básica como este absurdo evidente, deve receber um bom par de patins.

E aqui temos mais um exemplo de como os nossos impostos são deitados à rua por ministérios incompetentes e administrações incompetentes, e estas ainda por cima pagas a peso de ouro.

O que estão os deputados da oposição a fazer, sobretudo os do PSD, os que têm mais responsabilidade? Muito ocupados, a preparar um Dia do Gato, ou do Periquito, ou do …?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Ameaças não credíveis

Notícia do Diário de Notícias de hoje, p. 44: “Meios contra restrições à publicidade infantil”

“O Executivo acredita que a auto-regulação não tem funcionado e que os anunciantes promovem excessivamente produtos que fazem mal à saúde” (…) “Já o Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade (ICAP) acredita que a auto-regulação tem funcionado”. Esta gente das corporações não aprende: desde quando é que um juiz em causa própria é credível?

Rui Ramos Pereira, secretário-geral da Confederação de Meios para a Comunicação Social, “acredita [ó senhora jornalista não pode variar um pouco de verbo?] que a proibição de publicidade a alimentos para crianças pode terminar com os conteúdos infantis na televisão”. Parece que a publicidade dirigida a crianças anuncia exclusivamente produtos alimentares, e não só alimentares, mas produtos alimentares e nocivos para a saúde.

Já viram esta ameaça? Ou nos deixam continuar a anunciar produtos nocivos para a saúde das crianças, ou nós deixamos de patrocinar programas infantis nocivos para o desenvolvimento social e mental das crianças. Buh! ai que medo!...

A notícia em caixa fala do envolvimento do Ministério da Saúde para “definir que quantidades de gordura, açúcar e sal são consideradas saudáveis”. Imaginemos, como nos querem fazer crer (estes lobbies que tomam o governo e os portugueses como idiotas chapados também têm muito que se lhes diga), que toda a publicidade era a produtos nocivos. Alguém acredita que os fabricantes, na posse de limites saudáveis concretos à composição dos produtos, iam pura e simplesmente manter os seus produtos tal como são hoje, acabar com a publicidade e assistir teimosamente a uma queda a pique na venda dos seus produtos? Está tudo parvo?

Como é evidente, se algum dos actuais fabricantes decidisse a estratégia suicida de não se adaptar veria a sua quota de mercado comida (piada de fraco gosto, eu sei) pelos produtores que se adaptassem às novas regras. Como é evidente, não faltaria publicidade aos novos produtos, menos nocivos à saúde e as crianças lá poderiam continuar a ver esses programas maravilhosos que para aí há.

Quanto a estes lobbies, são mesmo o espelho do atraso do país. Meus amigos, que tal aumentar a qualidade dos produtos que vendem e aumentar a qualidade da argumentação?

Professor erra

Marcelo Rebelo de Sousa deu umas aulas de história do PSD esta semana, em Lisboa. Dos resumos publicados hoje no Expresso (p. 8) e Diário de Notícias (p. 2-3) escolho, do primeiro: “Mais do que a análise da situação política, valeu a viagem ao passado”.

Mesmo nesta “viagem ao passado” discordo do ponto 9. no Expresso. “Os que tiveram tempo para se preparar foram os que marcaram o partido – Sá Carneiro e Cavaco Silva”. Esta afirmação não tem sentido. Quanto tempo teve Sá Carneiro para se preparar para lidar com o turbilhão do 25 de Abril? Quanto tempo teve Cavaco Silva para se preparar entre a eleição como líder do partido em Maio de 1985 e ganhar as eleições em Outubro desse mesmo ano? Já Durão Barroso, com uma tão precoce intervenção política e ascensão meteórica, pode dizer-se que teve 20 anos para se preparar para líder. Foi o que se viu. Não me parece que “tempo” seja aqui a palavra-chave. “Por isso o professor defende que o PSD não se deve precipitar e deve dar tempo a Menezes.” Como não concordo com a análise só posso discordar com o corolário. Aliás, esta tentativa de comparar aqueles líderes históricos com Menezes é do domínio do delírio.

Mais à frente: “Quando o PSD sobrepõe a visão de partido de militantes à de partido de eleitores, os militantes podem ficar muito felizes, mas o PSD perde o país” E ainda o partido é “agradecido aos dirigentes que mimam as bases, como Nogueira, Mendes ou Menezes”. Aqui há um indício de contradição de Marcelo. Mas não a vou cavalgar.

No Diário de Notícias (p. 3) Marcelo dá um argumento em si frouxo para defender Menezes: “não há tempo”. Reparem bem que a ideia não é que o PSD deve apoiar Menezes porque ele é um bom candidato, mas simplesmente porque “não há tempo” para o substituir por um candidato melhor.

Mas o próprio argumento do “não há tempo” é ridículo. Sócrates foi eleito líder do PS em Setembro de 2004 e ganhou as eleições de Fevereiro de 2005, apenas cinco meses depois. E não só ganhou as eleições com maioria absoluta como se tem conseguido manter com elevados níveis de popularidade, apesar da agenda “reformadora” pesada.

Aliás, Menezes continua na sua campanha diária: “Eu quero que vocês fiquem certos que eu não sirvo mesmo para líder do PSD”. No Expresso de hoje, p. 4, em relação à polémica das quotas: “A direcção social-democrata considera que esse dossiê está resolvido, sobretudo depois de Menezes ter anunciado que no próximo congresso tenciona matar a polémica, acabando com o pagamento obrigatório de quotas.” Leram bem “matar a polémica”? Já pararam de rir?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Bases vs. Barões

Menezes gosta de encher a boca e dizer que, com a sua eleição, houve uma alteração significativa: os barões deixaram de mandar e as bases passaram a assumir o poder.

Esta ideia assenta em vários equívocos. O primeiro é de que barões e bases estão dissociados e o que as bases mais gostariam é de ver um dos seus elementos como dirigente do partido. Será mesmo que o sonho de um sapateiro é ter um sapateiro como PM? Duvido.

O segundo equívoco é que as bases são compostas apenas por militantes de baixas qualificações. Ser das bases não é equivalente a ser básico. Um militante, digamos, que seja professor universitário de engenharia, mas não pertence a nenhum órgão interno, faz parte das bases. Ou não?

Finalmente, o equívoco mais grave. Menezes foi eleito em directas e, daí, pelas bases. Daqui Menezes conclui que tudo o que lhe sai da boca, por mais disparatado que seja, tem a bênção das bases, porque ele foi eleito pelas bases. A argumentação é tão idiota como a de Sócrates de que o PS foi eleito por maioria absoluta e portanto tudo o que o governo faz está certo, por definição de maioria absoluta. Estão bons um para o outro.

Com uma diferença, para pior, de Menezes. Este fala para as bases do partido, fala do que ele imagina que elas gostam ouvir. Só que isto tem um grande problema: as bases não são o país real.

BE vs. Verdes alemães

Li há tempos um forte elogio a Joschka Fischer, vindo de uma pessoa que muito prezo, José Manuel Fernandes, director do Público. Dissera-lhe aquele que “o que mais o tinha cansado nos seus intensos 20 anos de vida política não tinha sido o lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, mas fazer de Os Verdes um partido realista, fiável e de poder.” (Público: 4, 24 Nov 06).

O que se retira daqui é que o Louçã não é obviamente o Fischer do BE. O BE é o partido do irrealismo, para não dizer do disparate. Tenho para mim que quem poderia fazer este papel de Fischer no BE seria o Daniel Oliveira. Prefiro um BE que possa aceder ao poder do que este desfiar de disparates que os caracteriza. É evidente que um BE de governo teria que descer à terra e desfazer-se de alguns delírios. Voltarei ao tema.

Uma oportunidade para o PSD

O governo anunciou que vai passar seis hospitais da gestão privada para a gestão pública. Não estou minimamente por dentro do dossier e é muito possível que devido até a um mau contrato assinado pelo Estado as coisas não tenham corrido bem.

Face a este recuo estatizante, o PSD precisa de responder e tem uma oportunidade de ouro para diferenciar a sua posição, dificuldade que tem estado bem alto na agenda. É claro que se houvesse um gabinete de estudos com trabalho produzido e que ficasse como referência, haveria material para dar agora uma resposta consistente. Como não há, temo que venhamos a ouvir mais umas “bocas” desmioladas do Menezes ou, pior, que este tente ultrapassar o PS pela esquerda.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Recomendado: “A claustrofobia no PSD”

De Rui Ramos no Público de hoje, p. 37:

“Os problemas do PSD (…) [r]emontam, pelo menos, à dupla derrota de 1995. Os líderes do PSD ficaram então à espera de uma nova oportunidade para reeditarem a velha política de expansão das infra-estruturas e do Estado social. Não perceberam que precisavam de mudar de agenda e dar prioridade à reforma do Estado – como o PS, com Sócrates, percebeu.” (meu negrito)

Os críticos externos aos críticos de Menezes dizem que esta crítica não é baseada em divergências ideológicas. Pois, é um pouco difícil criticar “a” ideologia de Menezes, quando ele se contradiz constantemente. Mas há uma crítica ideológica: é a falta de consistência ideológica de Menezes que é o mais criticado.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Banha da cobra fora do prazo de validade

Menezes, incompreensivelmente inchado, afirma (Diário de Notícias de hoje, p. 16): “É a primeira vez em trinta anos que as pessoas que dirigem o partido saem do país real e não da macrocefalia política.” Sá Carneiro ao vir do Porto para Lisboa sai do “país real”. Cavaco sai de Boliqueime e, automaticamente, sai do “país real”. Pelos vistos tudo o que se passa em Lisboa, cuja área metropolitana concentra cerca de um quarto da população do país, não é o “país real”.

Mais à frente fala na “dinâmica fortíssima” do PSD. Perdão? Quem diz que o PSD está com uma “dinâmica fortíssima” só pode estar a anos-luz de distância do país real. Menezes está a especializar-se a dizer entre disparates e erros grosseiros na expectativa que as pessoas os engulam, só porque vêm da boca dele. Meu Deus! Só vamos assistindo a uma penosa venda de banha da cobra, ainda por cima de contrafacção e fora do prazo de validade.

domingo, 16 de março de 2008

Intervencionismo vs. Liberalismo

A política deve guiar-se por princípios estruturantes e não ser casuística. Tomemos o eixo intervencionismo-liberalismo, um dos mais relevantes na localização ideológica. Este eixo deve ser visto como uma linha contínua e não como dois pontos extremos. Até meados dos anos 70 do século passado havia um predomínio do intervencionismo. Nixon (presidente Republicano, conservador) afirmou em 1971: “Agora sou um keynesiano” [intervencionista].

Nesta década de 70 vai dar-se uma mudança tectónica, com o liberalismo a passar a ocupar a mó de cima. Primeiro com o reconhecimento aos seus teóricos, com o Nobel da Economia (recém-criado em 1969) a ser atribuído a Friedrich von Hayek (1899–1992) em 1974 e a Milton Friedman (1912-2006) em 1976. A passagem à prática política dá-se com a vitória de Margaret Thatcher nas eleições legislativas no Reino Unido em 1979.

Esta onda liberal vai espalhar-se a todo o mundo. Veja-se o exemplo muito relevante das privatizações que percorreram toda a Europa, Ásia, América Latina e África. Também os ventos da globalização (no sentido estrito de liberalização de trocas comerciais) resultam deste movimento tectónico liberalizador. Por isso um socialista poderia dizer, que hoje somos todos liberais.

Em Portugal o esquerdismo serôdio do 25 de Abril atrasou esta transição e só a revisão constitucional de 1989 acabou com a irreversibilidade das nacionalizações de 1975 e permitiu o início das privatizações e liberalizações consequentes (desmantelamento de monopólios).

Entretanto quase todos os partidos políticos portugueses acompanharam esta mudança tectónica e são hoje muito mais liberais do que eram em 1976, para saltar por cima dos desvarios do PREC. A excepção mais relevante é o PCP, que gostaria que o tempo tivesse parado algures antes da queda do muro de Berlim.

Dado este enquadramento, é inadmissível que o PSD tente ultrapassar o PS pela esquerda, defendendo ainda maior intervencionismo que os socialistas. Neste momento o PS está com uma agenda reformista (ou talvez pseudo) que é contra-natura para eles, mas que está a ocupar o lugar tradicional do PSD.

Isto está a colocar um problema de identidade ao PSD. Se o nosso partido, em vez de afirmar de forma mais nítida a sua identidade tradicional (que em parte o PS está a usar como travesti), tentar ultrapassar o PS pela esquerda, só agrava a crise de identidade. Seria como a luta de dois travestis, ambos pouco convincentes e um caos para o eleitorado.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Menezes pede maioria nas legislativas de 2009

http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF189442

“O presidente do PSD pediu, esta quarta-feira, uma maioria expressiva para governar em 2009, uma semana depois de ter dito que ainda não merecia chegar ao Governo. Menezes disse, no entanto, que ainda é cedo para fazer um programa governamental.”

Está tudo dito.

“Para tal, o líder social-democrata frisou que é necessário ultrapassar o obstáculo da «desqualificação da democracia», que decorre do facto de a «comunicação não tratar com igualdade os dois espaços políticos».”

Plenamente de acordo com a necessidade de ultrapassar a «desqualificação da democracia», nomeadamente da necessidade de mandar borda fora um “líder” de vão de escada. Ridícula a ideia de que o problema está na “comunicação”. Então a comunicação não tem dado tanto destaque à torrente imparável dos disparates de Menezes? Aliás “igualdade” e “dois” na mesma frase é de chorar a rir. Então só há “dois espaços políticos”?

“ ‘Vivemos num país do medo em que há um justo receio de divergir, nem que seja de uma forma pontual e tranquila, daquilo que é a verdade oficial’, acrescentou Menezes”. Então não é este o problema que se passa dentro do próprio PSD? O Menezes tem os mesmos tiques autoritários de Sócrates e ainda menos qualidade.

“Respondendo aos críticos que o acusam de apenas ter ideias avulsas, Menezes disse que seria uma insensatez fazer um programa de Governo a tanta distância das eleições legislativas de 2009.”

Menezes julga que os portugueses são atrasados mentais e que engolem argumentos estapafúrdios como este. Primeiro, não refuta acusação de ideias avulsas. Segundo, confunde ideias estruturadas com programa de Governo. Terceiro, julga que um programa de Governo se faz em poucos meses, sem trabalho de preparação. Em que é que os problemas na Justiça são diferentes daqui a um ano e meio do que são hoje? E na Educação? E na Saúde? E etc…?

quinta-feira, 13 de março de 2008

O cúmulo do ridículo

Num momento de fragilidade do governo, após uma manifestação inédita de protesto de professores, o que faz o “líder” do principal partido da oposição? Ataca a oposição interna em termos desproporcionados e mostra um novo logótipo! É possível um comportamento mais disparatado do que este?

Para compor o ramalhete, faz uma série de críticas ao governo, um ridículo chover no molhado. Escolhe um slogan totalmente vácuo: “mudança” e diz que “não irá apresentar um programa de Governo tão cedo” (do Diário de Notícias de hoje, p. 16).

Como é que Menezes não percebe que o essencial é apresentar uma alternativa CREDÍVEL? Julga ele que as críticas ao governo sem a apresentação de uma alternativa valem alguma coisa? Julga ele que a mudança de imagem muda alguma coisa? Mais ridículo que isto é impossível.

“Mudança” peço eu, de um “líder” de fantochada para um líder (a) sério.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O negócio do século

Comprar o Menezes pelo que ele vale e vendê-lo pelo que ele julga que vale.

terça-feira, 11 de março de 2008

Rio das Flores

Desde que Dóris Graça Dias escreveu algo sobre o Rio das Flores do Miguel Sousa Tavares (MST) que passa por ser crítica literária, também eu me sinto habilitado a fazê-la. Ou, pelo menos, comentário literário.

Para se ler essa “crítica” de mais um “génio incompreendido”, que a direcção do Expresso “censurou” (vejam bem a injustiça!) e comentários que suscitou:
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/233576

Quanto ao livro do MST, que li sem a expectativa de estar perante grande literatura, tem algum interesse, embora tenha encontrado dois problemas que me impediram de aderir verdadeiramente à obra. O primeiro, que já tinha sido salientado pelo Vasco Pulido Valente (Público, 24 Nov 07, P2: 6-9), são os erros históricos e o segundo, que ainda não vi referido, é a falta de respeito do autor por algumas personagens femininas secundárias.

Há erros históricos mais subjectivos que outros. Por exemplo o que é um regime democrático? Há quem defenda, sem se rir, que as repúblicas do Leste Europeu eram “democráticas”. Neste sentido se poderia dizer que a nossa 1ª República foi democrática, porque dominada pelo Partido Democrático, embora as liberdades fossem bem diminutas. Mas quando li “A República pusera fim legal aos morgadios” (p. 94) dei um salto na cadeira. Este é um erro do mais objectivo possível: os morgadios foram abolidos em 1863, com excepção da Casa de Bragança.

Isto não é um mero problema de data. Isto revela uma visão altamente distorcida da história, revela uma ideia de que a data charneira da nossa história é a passagem da monarquia constitucional para a república. Ora na divisão clássica da história em períodos a época em que vivemos actualmente designa-se por Idade Contemporânea e teve início simbólico em 1789, com a Revolução Francesa, sob o signo da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Ou seja, a grande transição é entre a monarquia absoluta dum lado e a monarquia constitucional e as repúblicas do outro. E os morgadios, como instituto não da monarquia mas da monarquia absoluta, vão ser desmantelados pela monarquia constitucional. A igualdade de que aqui se fala é a igualdade perante a lei, que vai logicamente conduzir à extinção dos morgadios.

Há outra consequência lógica da igualdade, que é a da ascensão da burguesia ao longo de todo o século XIX, que vai alterar radicalmente a relação de forças (com o clero e a nobreza) própria da monarquia absoluta. Em Portugal esta transição dá-se com atraso mas, mesmo assim, de forma relevante:

“No que respeita à consciência de classe, a burguesia constitucional reforçou sem dúvida a sua na segunda metade do século XIX. (…) Dos trinta e sete governos que dirigiram Portugal entre 1870 e 1910, nenhum foi presidido por titular e só à frente de três ou quatro se encontraram nobres de boa linhagem. Nenhum dos grandes estadistas ou parlamentares do tempo recebeu qualquer título. A burguesia dera-se por fim conta do seu próprio valor e desdenhava de nobres e nobilitações.” in Marques, A. H. Oliveira (1972) História de Portugal, III vol., Palas Editores, 1986, 3ª edição, p. 121-122

Isto é para reforçar a ideia de que a transição essencial se dá da passagem da monarquia absoluta para a monarquia constitucional, com algum atraso, em 1820.

O problema deste grave erro histórico é que a partir daqui, cada informação histórica passa a ser vista com a maior das suspeições. E aquilo que poderia ser uma mais-valia da obra, o revisitar o período histórico de 1915-1945, acaba por não funcionar, pelo menos para mim.

Um outro exemplo de erro histórico, neste caso francamente menor, mas erro de toda a forma: “[a] ‘mais velha aliança do mundo’, que unia Portugal à Inglaterra, desde o século XIII.” Esta aliança, o Tratado de Windsor, data de 1386, logo do século XIV e não XIII. A propósito, na p. 609, há uma “Nota do autor”, onde se lê: “Aos leitores garanto a seriedade do relato histórico, aos caçadores de erros a inutilidade final do seu esforço.” Face ao exposto atrás, isto que tem que ser encarado como uma advertência divertida.

Quanto ao segundo problema, o respeito pelos personagens, na arte da representação existe a recomendação básica que o actor respeite os seus personagens, por piores que eles sejam. Como caso paradigmático atente-se ao Hitler criado pelo Bruno Ganz no filme A Queda (2004), dirigido por Oliver Hirschbiegel. Há aqui um pouco mais do que um mínimo de respeito por aquele que é um dos mais terríveis personagens da História.

Não sei se existe recomendação geral semelhante na literatura, mas eu assumo essa recomendação. MST revela falta de respeito por uma série de personagens femininas secundárias, uma falta de respeito que ultrapassa uma descrição de caricatura e chega a roçar o insulto. A mulher do sr. Ashiff “tão abundante de banhas” (p. 382). “Banhas” é uma palavra muito deselegante. Sobre a sra. Trindade: “o seu ridículo corte de cabelo de madame de Viseu, o seu berrante bâton vermelho contrastando com o sombreado negro do bigode.” (p. 383). De novo a caricatura e a falta de subtileza do “bigode”. Mais “uma cabecita loira e tonta que pertencia ao corpo de baile francês” (p. 390), um estereotipo insultuoso.

Noutro registo: “Diogo sentia no ar um cheiro a gado, a sardinhas e também a fêmea.” (p. 98) e “ancas largas de fêmea já parida” (p. 446). Para mim “fêmea” e “parida” são duas palavras de uma grosseria de cavador.

Estes exemplos, desagradáveis como são, poderiam passar sem sobressalto se aparecessem no discurso directo das personagens masculinas, num tempo histórico bem diferente do nosso. Na reflexão interior de um personagem já cabem com mais dificuldade, mas ainda se desculpam um pouco, como é segundo grupo de exemplos, que poderiam ser interpretadas como reflexão dos personagens, Diogo e depois Pedro. O problema neste caso é a distinção entre narrador e diálogo interior do personagem, nem sempre nítida, sobretudo porque este narrador é claramente omnisciente. Já no primeiro grupo de exemplos é claramente o narrador que usa aquela linguagem de falta de respeito e nestes casos já não há desculpas. Este misto de marialvismo e misoginia, não só não tem graça, como não é nada bonito de se ler.

Dois apontamentos finais. Uma surpresa a entediante e longa explicação das regras do jogo de cartas blackjack nas p. 387-389. Qual a utilidade de maçar o leitor com isto?

Uma embirração pessoal: por diversas vezes (p. 456, 502, 597) há a utilização do verbo “realizar” no sentido de “tomar consciência”, o que segundo o dicionário Houaiss (e eu estou 200% de acordo) “é um anglicismo semântico a evitar”.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Mais cacetada no Menezes

Porque ele merece. Rui Rio critica as alterações aos regulamentos do PSD porque abrem uma “porta à lavagem de dinheiro ao nível do financiamento partidário” (Público de hoje, p. 7). Marcelo Rebelo de Sousa, ontem na RTP1, fez crítica idêntica.

Menezes ainda se defendeu a dizer que estes regulamentos já existiam assim no tempo de Sá Carneiro e Cavaco. Pois, como se o passado fosse um paraíso… Para além disso, estes regulamentos, permeáveis como ficaram ao caciquismo e à corrupção, eram muito menos preocupantes em tempos de grandes líderes. Estes mesmos regulamentos em tempos de líderes de vão de escada, que funcionam como cata-ventos, são muito mais perigosos. Não vale sequer a pena gastar dinheiro para tentar influenciar um líder forte e honesto, mas um “líder” que muda de posição a todo o instante? Mas também aqui há grandes ilusões. Quem é que vai querer espatifar dinheiro em alguém que não tem praticamente nenhuma hipótese de vir a ser poder?

O melhor PSD, o que sente a militância partidária como missão cívica, não se revê neste “líder”. O pior PSD, o que só anda à procura de tachos, não pode ter ilusões sobre chegar a tachos com esta “liderança”, ainda pior que a de Santana, a que ofereceu de bandeja a 1ª maioria absoluta ao PS.

domingo, 9 de março de 2008

Falta de inteligência e de honestidade

Contra a voz da prudência e da decência, o Conselho Nacional do PSD, aprovou as propostas de alteração dos regulamentos do partido. As propostas remetem para o retorno do caciquismo no seu pior. O que estão à espera de ganhar com esta degradação?

A propósito desta votação é interessante ver a lista dos membros deste Conselho:

http://www.psd.pt/

A lista é impressionante: a esmagadora maioria dos membros são ilustres desconhecidos, aos quais nunca se ouviu uma opinião sobre o que quer que seja e cujo peso eleitoral me parece perto de nulo. Tenho ideia que muitos nem em fotografia os reconheceria. Esta lista é chocante não só pelas presenças, bem como pelas ausências.

Considero absolutamente lamentável a forma como este Conselho Nacional é formado. Como é que um partido com aspirações a governar pode ter um órgão deste com figuras de terceira linha?

Menezes, muito auto-importante, vem dizer que temos que nos habituar a que agora quem manda são as “bases”. As “bases”? Se são as bases, porque não colocar estas alterações a votação das bases? Uma hipocrisia.

sábado, 8 de março de 2008

Afirmações alarmistas sobre crime

Em entrevista ao Expresso de hoje, p. 4, o ministro da Administração Interna Rui Pereira declara sobre a vaga de crime dos últimos dias: “Nada está fora de controlo!”. Estas afirmações só podem ser percebidas como alarmistas, provocando fortíssimos receios na população.

Quando o ministro, sem distância sobre os acontecimentos, vem dizer que está tudo bem, espera-se o pior. Primeiro, espera-se uma sistemática desvalorização dos problemas, como táctica recorrente deste governo, supostamente para inspirar optimismo na população. Uma táctica completamente contraproducente. Confia-se muito mais em quem reconhece problemas e se declara disposto a levá-los a sério, do que em quem os desvaloriza.

Em segundo lugar, quem desvaloriza problemas desvaloriza soluções. Se o problema não é relevante nem urgente, a que propósito se vão empenhar recursos, a que propósito se vai colocar pressão para a obtenção célere de resultados?

Estas afirmações, completamente desfasadas dos sentimentos de insegurança dos cidadãos, só agravam estes mesmos sentimentos. Mais um erro deste governo. Aliás leiam-se as críticas a estas afirmações de antigos directores da PJ na mesmíssima página do Expresso.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Mais um “insulto gratuito”

Menezes conseguiu arregimentar dez antigos secretários-gerais do PSD CONTRA a sua proposta à socapa de alteração dos regulamentos internos. Do texto subscrito por estes críticos: “O PSD rege-se hoje por um conjunto de regras marcadas pela preocupação de garantir clareza e transparência na sua vida interna. E causa genuína e profunda perplexidade que, nos documentos agora propostos, se possam encontrar soluções que interrompem essa orientação”.

Em entrevista ao Jornal de Notícias de 5 de Março, Menezes reconhecia “Nós ainda não merecemos estar claramente à frente do PS nas sondagens”. Mas depois, incongruentemente, queixava-se: “o que leio na opinião publicada não é nada agradável. É o insulto gratuito. Evidente que isso mexe comigo e faz-me reflectir sobre o porquê.”
Enquanto reflecte e não chega a conclusão nenhuma (a única conclusão é que deve voltar para Gaia e parar de destruir o PSD) vai recebendo mais um “insulto gratuito”, desta feita, de dez antigos secretários-gerais do PSD.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Semi-lucidez

Menezes, em entrevista ao Jornal de Notícias de ontem, num momento da rara lucidez diz que "PSD ainda não merece estar à frente nas sondagens". Acrescenta: “É mais difícil convencer o meu partido, sinceramente.” Apoiado.

Infelizmente, falta-lhe a outra metade da lucidez, que é perceber porque é que isto é assim. Ao menos arrisque e ponha os tais porta-vozes a falar, a ver se consegue alguma credibilidade.

quarta-feira, 5 de março de 2008

A pergunta certa

Rui Ramos no Público de hoje, p. 41: “Mas que acontecerá se o PS reeditar uma maioria absoluta (…) e a eleição de 2009 legar ao PSD uma bancada parlamentar escolhida por Menezes e Santana?”

Este desastre precisa de acabar depressa e o Verão está demasiado distante.

Erro continuado de Cadilhe

Há anos que Cadilhe, o ministro das Finanças das vacas gordas, volta à carga com a mesma asneira. Que Portugal precisa de um estímulo de despesa pública. Como é possível ignorar o gravíssimo problema da competitividade? Como é possível não perceber que um eventual estímulo (ainda por cima artificial) da procura interna só terá como efeito um aumento do défice e da dívida externos? Para além de atrasar o processo de recuperação da competitividade perdida, processo esse que está, estranhamente, muito incipiente.

Depois temos o jogo de palavras. Para Cadilhe “recessão” deixou ter o significado técnico de dois trimestres sucessivos de decréscimo do PIB para significar qualquer crescimento abaixo do potencial. Esticar conceitos desta forma pode ser interessante num contexto literário, mas é péssimo num contexto científico.

Já agora poderia acrescentar uma palavrinha sobre o problema sério que temos ao nível do próprio crescimento potencial, que está em queda e esse é um problema muito mais sério, que seria agravado com a sugerida receita para o problema conjuntural. Ou seja, Cadilhe oferece a solução errada para o problema errado. O problema maior não é a divergência conjuntural com a UE, mas sim a divergência estrutural que se vem desenhando.

Ainda recentemente Miguel Beleza teve palavras menos simpáticas a descrever os conhecimentos de economia de Cadilhe. Não subscrevo os termos dessa crítica, mas só posso concordar com o seu conteúdo.

terça-feira, 4 de março de 2008

Vitória de Pirro?

Segundo o Público de hoje, p. 7, António Vitorino advertiu que a eventual substituição da ministra da Educação seria “uma derrota muito pesada para o Governo”. Não compreendo a lógica deste tipo de declarações. Este conceito de “derrota” poderá ter sentido numa lógica partidária, mas não faz sentido nenhum numa lógica eleitoral. E daqui já se vê a disparata distância que existe entre os partidos e os eleitores.

Antes de mais, temos que distinguir a política do protagonista. Uma boa política pode ser morta por um mau protagonista. Esta ministra começou com boas ideias, mas hostilizou excessivamente os professores (seguindo a orientação geral de Sócrates, aliás), nem conseguindo sequer ter como aliados um pequeno grupo contra o status quo.

Neste momento, o prazo de validade desta ministra expirou. Veja-se o caso da substituição do ministro da Saúde por uma médica, muito mais sensata que o antecessor. Isso foi “uma derrota muito pesada para o Governo”? Desde quando esvaziar uma bolsa de conflito é uma derrota?

Esta ridícula visão machista de braço de ferro pode custar muito caro ao Governo. O que é mais importante: a política ou o protagonista? Neste caso, a ministra nem sequer é uma figura de proa do PS, nem há esse pretexto para a “segurar”. Cheira-me que o PM vai aguentá-la mais um tempo sofrendo imenso desgaste e depois deixa-a cair, uma estúpida perda de capital político, sem qualquer vantagem. Ou então aguenta-a até ao fim, mas aí cheira-me que obteria uma vitória de Pirro, a tal que, “com mais uma vitória destas, perdemos a guerra”.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Défice de bom senso

Segundo o Diário Económico de hoje, notícia de capa e entrevista online:

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/empresas/pt/desarrollo/1096054.html

Jorge Coelho tem uma empresa de consultadoria e vai agora passar a ter como cliente a Mota-Engil, a juntar à “Martifer, Visabeira, Novabase” segundo palavras do próprio. Coelho defende-se dizendo que não está no activo, que não tem nenhum cargo. Pois, é apenas membro da Comissão Política do PS, uma questão de somenos porque segundo ele “reúne-se poucas vezes por ano e é um órgão político de aconselhamento, não tem mais nenhuma função.” Pois, pois…

Num período em que se planeiam a construção do novo aeroporto e TGV (espero que entretanto este último disparate aborte), digamos que esta contratação não é propriamente o cúmulo da prudência.

Coelho não é estúpido, tem que perceber que este gesto só pode ser olhado como a maior das suspeições. Tem a cautela de dizer “Fui contratado para ser consultor na área do desenvolvimento estratégico e internacionalização.”, revelando alguma consciência do potencial melindre da contratação, acenando com a “internacionalização”. Mas, francamente, está à espera que ninguém suspeite de nada? Não está a pedir boa fé, está a pedir ingenuidade em doses olímpicas.

domingo, 2 de março de 2008

Sondagem negativa

A sondagem do Expresso de ontem tem uma tonalidade muito negativa. Todos os líderes partidários caiem na sondagem (Menezes cai há 3 meses consecutivos, o pior desempenho de todos). Sócrates é o que cai mais este mês, mas mantém níveis muito elevados de popularidade.

Quanto aos partidos, por construção, não podem cair todos. O que mais cai é o PSD, enquanto o PS sobe. O CDS não consegue aproveitar o mau momento do PSD e cai também, o que parece um pouco extraordinário, excepto se nos lembrarmos das referências sucessivas a negócios pouco claros. Uma questão das mais humilhantes é o CDS estar cada vez mais abaixo do BE.

sábado, 1 de março de 2008

Menezes autista

Com algum atraso, aqui um comentário à entrevista que Menezes deu à SIC Notícias na 3ª feira. Não a ouvi em directo, só o resumo em:
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2008/02/parafraseando.html

Parece que o PSD está a subir nas sondagens. Porquê? Porque o PSD foi “decisivo” para a ratificação parlamentar do Tratado de Lisboa. “Foi o PSD que obrigou o PS a mudar de posição”? Já pararam de rir? E depois desse contributo “decisivo” numa matéria hiper-mobilizadora dos portugueses e em que os dois principais partidos mentiram mais uma vez, recuando na promessa de referendo, os eleitores premeiam uma quebra de promessa com uma subida nas intenções de voto. Como análise política, é difícil uma abordagem mais “criativa”.

Outro contributo “decisivo” foi a apresentação do porta-voz da economia. “Importante” em dois aspectos. Primeiro trata-se de um obscuro ex-Secretário de Estado de Cavaco. Alexandre Relvas também poderia ser apresentado com esse estatuto, mas muito mais. Só que gente deste calibre Menezes pura e simplesmente não consegue atrair. Mas o mais irónico é o segundo aspecto: o porta-voz ainda não falou. Isto que dizer o quê? Que o líder não tem ideias e então o porta-voz não tem nada para dizer? Ou então que o porta-voz é uma pessoa responsável e as suas ideias colidem com a demagogia do líder e então este manda-o estar calado? Depois seguiu-se a lista de outros porta-vozes mudos.

A RTP vai deixar de ter publicidade (outra promessa para quebrar?). Para quem defende o desmantelamento do Estado em seis meses, onde está a coerência de aumentar a despesa pública com esta medida? Não seria mais coerente defender a privatização, pelo menos do canal 1. Depois enche a boca com serviço público de TV. Mas ainda não explicou o que isso seja concretamente. Mas teme-se o pior, dadas as suas sugestões sobre distribuição de comentadores entre tendências do PSD e PS.

A comparação da sua situação com o “massacre” de que Cavaco era vítima enquanto PM, é do domínio da megalomania mais delirante.

Tenho ideia de que o que está a acontecer é que Menezes afugentou todas as pessoas de qualidade, com os seus disparates, passados e presentes. Neste momento está rodeado de medíocres que ficam genuinamente bem impressionados com as suas tiradas. Como o feed-back dos mais próximos é bom, Menezes julga que está a ir muito bem. Não consegue perceber as críticas, que vêem, por definição, de gente mal intencionada. O autismo é mais ou menos isto.

Juiz em causa própria

“As contrapartidas da concessão do Casino de Lisboa já renderam ao Estado cerca de 106 milhões de euros, disse ontem [28 Fev] à Lusa o presidente da Estoril-Sol, considerando o negócio ‘excelente’ para os cofres públicos.” in Público: 9, 29 Fev 08.

O negócio poderá ter sido “excelente” mas, dada a confusão e a falta de explicações convincentes que rodeiam a forma como o contrato de concessão foi alcançado, não temos dados suficientes para lhe dar qualquer nota. Foi “excelente” comparado com que alternativa?

Mesmo que seja verdade o “excelente”, a última pessoa com credibilidade para afirmar tal coisa é o presidente da Estoril-Sol. Ele não percebe que um juiz em causa própria dá vontade de rir?