domingo, 20 de janeiro de 2008

Quanto tempo mais?

Durão Barroso inaugurou um ciclo simultaneamente triste e irritante no PSD. Por razões que ainda estou para perceber, defendeu um choque fiscal nas eleições legislativas de 2002, que ganhou quase à tangente. Como foi possível defender tal medida quando Portugal tinha, por um lado um grave problema orçamental e, por outro lado, uma das maiores taxas de investimento da UE (28% do PIB em 2001)? Como foi possível defender uma medida para resolver um problema que não tínhamos (falta de investimento) e que iria agravar um problema que tínhamos (défice orçamental)?

Para além de outros problemazinhos. Como é possível o líder do PSD defender uma medida altamente criticada pelos melhores economistas do PSD? E o carácter de facilitismo guterrista a que esta medida tresanda? Então com o choque fiscal resolve-se tudo? A educação, a saúde, a justiça ficam resolvidas, como por encanto?

Bom, apesar de um mau começo, Durão lá se foi endireitando, ainda que lhe faltasse um discurso mobilizador. Depois, em Julho de 2004, dois maus momentos, quase em simultâneo. A fuga para Bruxelas (a sua carreira é muito mais importante do que o país) e deixar o governo nas mãos de Santana. Se o primeiro momento foi mau, o segundo foi péssimo. E indesculpável. Se havia alguém que tinha obrigação de saber do que “a casa gastava”, esse alguém era Durão.

Santana, com um governo que não era obviamente pior do que o de Durão, foi inenarrável como PM. Para sua grande surpresa, mas de pouco mais pessoas, foi despachado em meses e ofereceu de bandeja a primeira maioria absoluta do PS desde o 25 de Abril. Inacreditável, como o PSD o levou a eleições. Como é que ele não foi corrido da liderança, após ter sido apeado pelo PR? Com o autismo pessoal dele posso eu bem, agora o autismo do partido já me custa mais.

Com alguns meses de atraso, Marques Mendes chegou à liderança do PSD. Consciente da necessidade de credibilizar o partido depois da liderança anterior, nem sempre soube ser consequente, com o diagnóstico que traçou e terapia que dizia seguir. Uma pena, para além da falta de carisma, que me parece associada ao problema referido.

O PSD farto dum cavalo perdedor, resolver mudar para Menezes. Pouco mais de três meses após a tomada do poder, já se percebeu que temos um quase irmão gémeo de Santana, com quem aliás aceitou coligar-se na AR. Menezes, muito estranhamente, não aprendeu a lição Santana. Santana, para além de todos os outros problemas (que não são poucos), não funciona eleitoralmente. Percebo (embora não aceite) que se façam certas concessões ao populismo, mas não percebo que se façam essas concessões, quando elas trazem penalizações eleitorais.

Neste momento, Menezes já não é criticado pelos analistas políticos. A coisa já caiu tão baixo, que ele já não é criticado, mas sim, ridicularizado. Só como exemplos de hoje temos, o Vasco Pulido Valente no Público e Nuno Brederode Santos no Diário de Notícias.

Bem sei que os 18 meses que faltam para as próximas eleições legislativas são uma eternidade em política. Mas no estado a que as coisas chegaram, teme-se uma muito penosa degradação do PSD, pelo que convinha pôr termo a este estado de coisas o mais breve possível. Não há para aí nenhum barão (ou baronesa) que se preste a restituir um mínimo de decência ao PSD, mesmo perdendo em 2009?
Portugal precisa de um oposição capaz que, no mínimo, consiga pôr Sócrates em sentido. Que lhe trave os desvarios, da Ota e similares, bem como os tiques autoritários, e nem para esta última Menezes serve (ver abaixo ).

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