quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Confiança internacional nos líderes

A Gallup publicou este mês um estudo internacional para o Forum Económico Mundial. Vou-me debruçar um pouco sobre os resultados à 5ª questão do inquérito, que versa a confiança nos diversos tipos de líderes.

A hipótese “confiança em nenhum” dos tipos de líderes à escolha recebe 30% a nível mundial, o que revela um descontentamento geral com as lideranças. O caso dos EUA então é extremo: 40% dos inquiridos não confia em nenhum tipo de líder e as respostas “não sabe/não responde” são ZERO. Os americanos estão mesmo chateados com as suas lideranças e por isso não admira que a palavra-chave da actual campanha eleitoral seja: “mudança”. Os políticos merecem a confiança de apenas 1% (contra 8% a nível mundial), mas muitas outras classes estão debaixo de fogo: empresários (5% contra 11% - certamente fruto do desfalque da Enron), advogados (4% contra 15%), sindicalistas (3% contra 10%) e mesmo jornalistas (8% contra 16%). Só os professores escapam a esta razia com uma apreciação superior à média mundial (42% contra 34%).

Já o caso da Alemanha é o oposto: apenas 7% escolhe confiança em “nenhum”. Os políticos, apesar de terem o último lugar na tabela, como é costume, conseguem mesmo assim uns impressionantes 17% de confiança. A nível mundial há 5 grupos que nem sequer este valor obtêm. Mas o mais impressionante vem a seguir: TODOS os outros tipos de líderes inspiram confiança em pelo menos 28% da população e há mesmo 3 grupos (professores, advogados, líderes policiais e militares) que conseguem ultrapassar a fasquia dos 50%! Este elevadíssimo nível de confiança nos líderes gera um capital social potentíssimo. A Irlanda tem valores ainda mais elevados do que a Alemanha, mas como é um país muito pequeno, não me vou alongar sobre ele.

Vamos agora a um oposto da Alemanha na Europa: a Itália. Pior do que nos EUA, 48% não confia em “nenhum” dos tipos de líderes. Mas as classificações de todos os grupos são más, inclusive dos professores, que não conseguem ir além de uns míseros 15%. O total das pontuações positivas é apenas de 66 contra 173 na Europa e 139 no mundo. Esta falta de confiança generalizada tem que ter consequências no quotidiano.

Fora destes exemplos extremos, outros extremos a apontar. Em França, uma excepção notável: o último lugar na escala é ocupado pelos empresários e não pelos políticos. Esta situação advém decerto de uma longuíssima tradição de intervencionismo estatal na área económica. Recordemos Colbert (1619-1683), um político que liderou a reconstrução económica sob Luis XIV.

No Reino Unido salientaria os níveis anormalmente baixos para empresários e jornalistas (ambos com 4%) apenas marginalmente melhores que os políticos (3%). É muito curioso como no mundo anglo-saxónico, tradicionalmente favorável aos empresários, este apresentam actualmente pontuações muito baixas, piores do que em países não tão favoráveis aos “negócios”.

Finalmente o caso português. Globalmente estão um pouco mais desconfiados do que a média europeia (28% não confia em “nenhum” vs. 26% na Europa). O primeiro lugar é ocupado pelos professores (42%), como se verifica de uma forma generalizada nos países ocidentais. Alguns sindicalistas de professores portugueses vieram encher a boca com este resultado, como se ele fosse notável. Eu prefiro dizer que estamos abaixo da média europeia (44%) e muito abaixo dos melhores: na Irlanda (89%), Bélgica (78%) Alemanha (67%) os níveis de confiança são muito superiores.

A 2ª posição é ocupada pelos líderes policiais e militares, com 24% (vs. 26%), sem comentários. Os jornalistas ocupam a 3ª posição (20%), quando na Europa só ocupam a 4ª. Aqui, o meu comentário pessoal é o de que os portugueses estão pouco habituados a uma análise crítica do que recebem. Quantas notícias de um dos lados de um conflito, publicadas sem contraditório, são tomadas como “verdade revelada”? Insisto na leitura pessoal: penso que os jornalistas em Portugal não merecem ocupar posição tão elevada.

Os líderes empresariais têm um honroso 5º lugar (7º na Europa). Os advogados têm a pior posição relativa (-11pp) em relação à Europa e estão duas posições abaixo dos seus congéneres europeus. Parece-me não ser abusivo retirar daqui que os portugueses consideram os advogados, pelo menos parcialmente, cúmplices da crise na justiça.

Em termos de má posição relativa, o segundo lugar vai para os sindicalistas (-5pp), o que é irónico, relembrando o comentário de cima de um sindicalista. Mais impressionante parece-me ser a troca de lugares entre sindicalistas e empresários. Na Europa os sindicalistas ocupam a antepenúltima posição e os empresários a penúltima. Em Portugal são os empresários que estão em antepenúltimo e os sindicalistas em penúltimo. Duas más notícias sobre os sindicatos em Portugal.

Afinal a terceira lugar da pior posição relativa (-3pp) vai para os políticos que, como em quase todos os países, ocupam a última posição.

Para ver o documento completo: http://www.weforum.org/pdf/gallup/vopstats.pdf

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